São Paulo – O hoje senador Romeu Tuma (PFL-SP), à época chefe do serviço de informações do Departamento de Ordem Política, Econômica e Social (Deops), da Secretaria de Segurança de São Paulo, foi a primeira autoridade do regime militar a denunciar o jornalista Vladimir Herzog, então diretor de jornalismo da TV Cultura paulista. A revelação consta da ata de uma reunião da comunidade de informações, localizada no Arquivo do Estado de São Paulo e revelada pelo livro Meu querido Vlado, do jornalista Paulo Markun, preso com Herzog. O livro será lançado em 9 de novembro.
O senador Romeu Tuma confirmou a existência da ata, mas disse não aceitar ser responsabilizado pelo destino de Herzog. Ele alega ter cumprido a sua atribuição à época, repassar informações que identificassem focos de subversão ao regime: ?Há uma distância oceânica entre isso e o que aconteceu com o jornalista Vladimir Herzog?, disse. Alegou que foi ele quem preservou a documentação do Deops, entregando-a ao governo paulista.
A ata, cujo fac-símile é mostrado no livro, reporta uma reunião em 10 de setembro de 1975, 45 dias antes da prisão e morte de Herzog pelo DOI-Codi paulista. Na reunião, Tuma disse: "Que o canal 2, através de seu departamento de jornalismo, está fazendo uma campanha sistemática contra as instituições democráticas e esse fato foi notado após ter assumido a direção daquele departamento o jornalista Wladimir (sic) Herzog, elemento sabidamente comprometido".
Na biografia que mantém em seu site pessoal, o senador omite o cargo de chefe do serviço de informações e a posterior chefia do Deops. Segundo o livro, os ataques a Herzog como diretor de jornalismo da TV Cultura, iniciados imediatamente após sua contratação, ganharam lógica e foram reforçados pela denúncia de Tuma. Antes de contratar Herzog, o então secretário de Cultura José Mindlin consultara o chefe do escritório do Serviço Nacional de Informações (SNI) em São Paulo, coronel Paiva, que deu o "nada consta".
No dia em que Herzog começou a trabalhar, 4 de setembro de 1975, um editor antigo pôs no ar uma matéria sobre Ho Chi Min, líder do Vietnã do Norte, visto como poderoso símbolo comunista. Surpreendido, Herzog mandou suprimir a matéria do jornal da noite e demitiu o editor que a programou à tarde. No dia seguinte, 5 de setembro, a matéria foi denunciada por Cláudio Marques, simpatizante do regime militar, que tinha coluna no jornal Shopping News. As prisões começaram a acontecer no dia 29 de setembro, quando foi detido José Montenegro de Lima, que fazia o contato da base dos jornalistas com o PCB e morreria durante o interrogatório com uma injeção para sacrificar cavalos.