Falando por meio de um vídeo para uma platéia de mais de cem pessoas, a grande maioria de sargentos da Aeronáutica, o presidente da Associação Brasileira dos Controladores do Tráfego Aéreo (ABCTA), Welington Rodrigues, um dos 14 afastados do monitoramento de aviões civis por liderar o movimento do dia 30 de março, rechaçou acusações que a categoria é formada por "sabotadores" ou "maçãs podres". Welington afirmou, ainda, que o clima de trabalho no Cindacta 1 "é doentio" e que o governo "está jogando fora todos procedimentos de segurança", advertindo que isso poderá ter como conseqüência um grave acidente, a exemplo do que houve na França, em 1973, exatamente quando os controladores da defesa aérea assumiram o tráfego aéreo comercial.
O pronunciamento de Welington marcou a abertura do encontro de controladores de vôo, que seria internacional, mas que foi transformado em nacional pela impossibilidade de comparecimento dos colegas argentinos e uruguaios. Em seu pronunciamento, Welington, que foi transferido para a Defesa Aérea junto com outros 13 sargentos por ser uma das "lideranças negativas", como diz o comando da Aeronáutica, disse que a forma como eles foram retirados do trabalho "agravou o quadro emocional" no Cindacta 1 em Brasília e que todos estão fortemente abalados.
"Estamos vivendo meses de inferno absoluto", desabafou Welington sob aplausos, de pé, dos colegas. E referindo-se, novamente, ao acidente de 73 na França apelou: "Imploramos a Deus que isso nunca aconteça. Mas temos cada vez mais medo que isso ocorra, porque a única certeza (da categoria) é a incerteza e as ameaças de expulsão". Segundo ele as denúncias sobre os problemas no setor e as operações especiais de monitoramento do tráfego aéreo foram em prol da segurança dos vôos.
Welington assegurou ainda que os controladores nunca tiveram como bandeira a questão salarial e sim a melhoria na qualidade do trabalho, já que considera os problemas do setor "estruturais". Lamentou pelo fato de os controladores estarem sendo enquadrados em crime de dolo e lembrou que todo o tráfego aéreo está nas mãos de "homens que não são valorizados". Queixou-se também da imprensa, que alegou ter "massacrado" a categoria, acentuando que "não têm direito de se defender" e que "todas as vezes que foram à imprensa, foram punidos". E acrescentou: "somos caluniados e não temos o direito de nos defender". Lembrou ainda que todos "estão sob forte pressão" e chamou os 14 afastados de "exilados"
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Tráfego Aéreo do Rio de Janeiro, Jorge Botelho, também defendeu a necessidade de os controladores se defenderem. "Não podemos nos calar sabendo que há irregularidades e problemas que colocam em risco a segurança dos vôos", declarou ele. Botelho lembrou que os controladores estão sendo acusados de "sabotadores, criminosos e chantagistas" e não têm direito de resposta para se defender, porque os militares são presos e os civis perseguidos. "É preciso acabar com o terrorismo em cima dos controladores", afirmou.