As Polícias Militar e Civil do Rio mataram 434 pessoas de janeiro a março deste ano, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP-RJ). Foram quase cinco (4,82) mortos por dia, recorde para o período na série estatística de 21 anos, iniciada em 1998. As mortes continuam no trimestre em curso.

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Só em quatro dias de maio, da sexta-feira, dia 3, à segunda-feira, dia 6, pelo menos 13 pessoas morreram por ação policial: quatro no morro do Borel (zona norte), uma na Rocinha (zona sul) e oito nas favelas do Complexo da Maré (zona norte).

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Especialistas mostram preocupação com a escalada de mortes. Ela começou, dizem, em 2018, durante a intervenção federal na segurança, e cresceu no governo Wilson Witzel (PSC), cuja política de segurança é de confronto com os suspeitos.

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“Nós já vínhamos numa crescente, especialmente no ano passado, a partir da intervenção federal chefiada pelos militares”, disse o sociólogo Ignacio Cano, coordenador do Laboratório de Análises da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LAV/UERJ). “Agora, com a nova política de extermínio oficializada pelo governo Witzel, o que caberia esperar era justamente isso. O contrário seria uma grande surpresa.” O aumento foi de 18% sobre o primeiro trimestre de 2018, quando houve 368 mortos em supostos confrontos.

Moradores da Maré denunciaram que a operação na comunidade, auge da ofensiva policial nos primeiros dias de maio, incluiu disparos feitos a partir do helicóptero que sobrevoou o complexo. Imagens de estudantes uniformizados correndo pelas ruas das favelas para se proteger dos tiros circularam nas redes sociais. Houve também reclamações contra tiros feitos a partir da aeronave que atingiram telhados de casas na região.

A política de confronto também vitima os policiais. Em 2019, até 9 de maio, segundo a Polícia Militar, 18 policiais da corporação haviam sido mortos – 3 em serviço, 11 de folga e 4 reformados.

Angra

Dois dias antes da ação na Maré, Witzel postou vídeos no Twitter, expondo na prática sua política de confronto. Apresentou imagens da sua participação em uma operação policial em Angra dos Reis, no sul do Estado. Há meses, o tráfico de drogas na cidade da Costa Verde fluminense é disputado por criminosos de facções rivais. A ação policial não teve resultados significativos.

Com policiais armados da Coordenadoria de Operações Especiais (Core) da Polícia Civil – mesma unidade que agiu na Maré -, ostentando fuzis e com um helicóptero ao fundo, Witzel anunciou que ia “botar fim na bandidagem”. “Acabou a bagunça”, bradou. Depois, contou estar “sobrevoando uma das áreas mais perigosas” do município.

Para a antropóloga e cientista política Jacqueline Muniz o envolvimento de Witzel em ações policiais é ilegal. “Ele dispõe de poder político-administrativo, não de poder de polícia. Ele tem de determinar a política de segurança, as estratégias, as prioridades. Toda brincadeira que ele faz como policial esbarra na ilegalidade e no abuso de poder.”

São Paulo

Policiais do Estado de São Paulo mataram 213 pessoas suspeitas em operações no primeiro trimestre deste ano. A quantidade representa uma alta de 8% em relação ao mesmo período do ano passado.

Em nota, o governo do Rio afirmou que “sua política de segurança é baseada em inteligência, investigação e aparelhamento das Polícias Civil e Militar”.

“O Comando de Operações Especiais (COE) da Polícia Militar trabalha com atiradores de elite há vários anos. Os efetivos do COE são constantemente treinados. Todas as operações, com a participação de atiradores de alta precisão ou não, são precedidas de planejamento técnico e seguem protocolos previstos em lei”, diz a nota, acrescentando que há a exigência de instauração de procedimento apuratório quando as ações resultam em mortes.

O Estado diz que está valorizando seus policiais e vem investindo em equipamentos policiais como coletes, viaturas e armamentos. “Três mil PMs serão convocados até o fim do ano.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.