São Paulo (ABr) – O total de armas de fogo apreendidas no Brasil no período de 2002 a setembro deste ano foi de 112.629 unidades. O volume aproxima-se do número de armas extraviadas ou tomadas dos cidadãos em assaltos, roubos e furtos residenciais nos últimos cinco anos, informou o chefe do Serviço Nacional de Armas da Polícia Federal (Sinarm), delegado Fernando Segóvia. ?A polícia realmente está tomando as armas dos bandidos?, afirmou o delegado.
Segundo ele, hoje há mais transparência e eficácia nessas ações graças à Lei 10.826, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 22 de dezembro de 2003, que criou o Estatuto do Desarmamento. Segóvia lembrou que a nova legislação tornou obrigatório o lançamento das ocorrências no cadastro nacional, possibilitando a criação de um banco de dados centralizado. Antes as armas apreendidas eram contabilizadas isoladamente, em distritos ou unidades policiais. Como não havia essa centralização, as estatísticas anteriores podiam ser subestimadas.
Segóvia destacou também o aumento do rigor. ?Antes do Estatuto, (a punição para) o crime de porte ou posse ilegal era muito branda. O bandido era pego e, no máximo, o que acontecia era ir para uma delegacia, onde prestava depoimento, e podia sair de lá sob pagamento de fiança. Hoje, não. O crime é inafiançável, então o bandido vai para trás das grandes?, disse ele.
Para o delegado, esse instrumento legal trouxe uma contribuição importante no sentido de coibir a criminalidade. ?Antigamente, nem adiantava muito prender o bandido com a arma. Não se provava muita coisa e ele (o bandido) ficava detido apenas algumas horas?. Segundo o delegado, com o estatuto, a própria polícia ficou mais estimulada no combate aos criminosos. ?Mesmo sem poder provar que acabou de deter um traficante de drogas, por exemplo, só o fato desse bandido estar com a posse de arma, já é suficiente para mantê-lo na cadeia?, afirmou.
Este ano, até setembro último, as apreensões de armas de fogo no País quase triplicaram, em comparação com o volume recolhido em todo o ano de 2004. Foram retiradas de circulação 63.940 armas, contra 21.920 no ano anterior. Em 2004, o total de apreensões já mostrava expressivo crescimento, tendo quase dobrado em comparação com 2003, quando foram apreendidas 11.767 armas. Em 2002, o montante havia sido de 15.002 apreensões.
Campanha mudou opinião da população
Brasília (ABr) Desde 1.º de outubro, as redes de televisão e rádio do País veicularam propagandas contra e a favor a venda de armas e munições. Dados, estatísticas, depoimentos de anônimos e artistas que já sofreram com a falta de segurança pública brasileira, maquiados ou não por recursos característicos da publicidade comercial, foram levados ao ar pelas frentes parlamentares responsáveis pelas campanhas. Fica a dúvida, no entanto, se a propaganda conseguiu informar o cidadão brasileiro sobre a questão e o ajudou a tomar uma posição para o referendo deste domingo.
Segundo pesquisa do instituto Ibope divulgada na última sexta-feira (14), 85% dos entrevistados que acompanham as propagandas afirmam não ter mudado de opinião, contra 12% que admitem ter mudado. A pesquisa também mostra que há um empate técnico entre o sim e o não, com uma vantagem para o não (49%) em relação ao sim (45%).
Mas para o professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), Octaciano Nogueira Filho, a propaganda influenciou o brasileiro. ?Antes do início da propaganda eleitoral, todas as sondagens diziam que em torno de 80% dos brasileiros eram favoráveis à proibição. Depois que a propaganda teve início, a pesquisa do Ibope já deu a vitória do não ao invés do sim?, afirma. Um levantamento do Ibope, realizado em 2003, apurou que 80% dos brasileiros eram favoráveis à proibição da venda de armas e munições, e 16% eram contrários. Para o professor, a diferença entre as pesquisas comprova a tese de que o eleitor mudou de opinião após o início da campanha de rádio e televisão. Uma das causas para a grande influência da propaganda na opinião do eleitor, segundo Nogueira Filho, é a ?inexperiência? do País na realização de referendos. Na avaliação do intelectual, uma questão técnica como a da venda de armas e munição não deveria ser decidida por esse tipo de instrumento. Para ele, a decisão caberia ao Congresso Nacional, que transferiu à população a decisão justamente pela sua alta complexidade.
