O caminhão que invadiu a área de resgate de um acidente na BR-282, em Descanso, oeste de Santa Catarina, provocando um segundo acidente, estava a 102 km/h e tinha apenas 30% de sua capacidade de frenagem. As informações fazem parte da perícia feita no caminhão e foram divulgadas pelo delegado responsável pelo caso, Rudinei Charão Teixeira. A tragédia, ocorrida no dia 9 de outubro, provocou a morte de 27 pessoas (11 de um acidente e 16 do outro) e deixou 90 feridos. A primeira batida envolveu dois caminhões e um ônibus de agricultores.

continua após a publicidade

O laudo completo dos dois acidentes, com 202 páginas, deve ser finalizado ainda esta semana, mas outros dados já foram divulgados por Teixeira. O caminhão da transportadora paranaense Turatto & Turatto, dirigido pelo motorista Rosinei Ferrari, não possuía ar nos tambores de freio e algumas mangueiras do sistema de ar comprimido estavam amarradas, o que impediu o bom funcionamento de todos os freios.

Segundo declarações do delegado Teixeira, as informações da perícia contradizem o que Ferrari afirmou em depoimento. Ele teria dito que não sabia de nenhum problema com os freios do caminhão.

O delegado também confirmou que o tacógrafo (que registra a velocidade) apontou que a velocidade chegou perto de zero cerca de um minuto antes do acidente, mas o caminhão voltou a se movimentar em seguida – pois estava em uma descida, carregado com 27 toneladas de açúcar. "Foi neste momento que parece ter acontecido o problema com os freios", declarou Teixeira.

Causas

continua após a publicidade

A advogada da transportadora Turatto & Turatto, Solange da Silva Machado, que representa Ferrari, declarou que as informações do laudo confirmam a versão do motorista, que disse em depoimento dirigir em baixa velocidade até perder os freios instantes antes de atropelar dezenas de pessoas. "Dali para frente é conseqüência", afirmou. "O que importa é saber quais foram as verdadeiras causas do acidente. Se o delegado Teixeira disse que o Rosinei sabia do problema com os freios, essa é uma conclusão dele.

Bombeiros que faziam o resgate do segundo acidente já apontavam para jornalistas e fotógrafos que o caminhão dirigido por Rosinei Ferrari estava com algumas mangueiras de ar comprimido amarradas, o que impossibilitaria o motorista de frear. Na empresa Turatto & Turatto, a informação é de que o caminhão passou por uma revisão completa em agosto, dois meses antes do acidente, e que os reparos necessários foram feitos.

continua após a publicidade

Solange informou que o mecânico responsável pela frota da empresa conversou na sexta-feira com o delegado Teixeira, da comarca de Descanso. "Ficou claro que o que a empresa tinha que fazer foi feito", declarou.

O mecânico teria dito ao delegado que em viagens longas, por regiões com pouca infra-estrutura rodoviária, é comum motoristas amarrarem mangueiras de ar comprimido que tenham problemas, até chegarem a uma oficina. "Se arrebentar uma mangueira de freio e você não amarrar, pode perder todos os freios", disse Solange. "Pode ter acontecido de Ferrari ter amarrado em questão de urgência ou até de ele ter passado em uma oficina e algum mecânico ter feito isso.

O motorista permanece internado no Hospital São José, em Maravilha. Segundo informações da junta médica que acompanha o caso, Ferrari possui uma ferida do tamanho de uma mão na coxa esquerda e ainda não tem previsão de receber alta. Se for transferido de hospital, Ferrari continuará preso sob escolta policial. A Justiça aguarda o término do inquérito policial, que deve sair esta semana, para iniciar julgamento.