Ao menos 150 mil m³ de lama foram retirados do centro da pequena Barra Longa, cidade de 6 mil habitantes distante cerca de meia hora de Mariana, Minas Gerais. E a poeira fina, bege, vista tão logo se chega à cidade, denuncia que o trabalho de reconstrução está perto do fim. Mas cerca de 30 mil m³ de lama ficarão para sempre por lá: o material está sendo usado como base para um parque de exposições e um campo de futebol.

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A cidade é a única que teve a região central atingida pelos rejeitos. A partir da Praça Manoel Lino Mol, construída para margear o Rio do Carmo, a lama se espalhou e atingiu 130 imóveis.

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A Samarco, empresa controlada pela Vale e pela BHP Billinton, responsável pela barragem que se rompeu em Mariana e deixou 18 mortos e uma pessoa desaparecida, faz de Barra Longa a vitrine de suas ações para recuperação dos danos causados pelo desastre. As obras de restauração foram filmadas continuamente e são exibidas no site da companhia. A praça foi reinaugurada semana passada.

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“Fizemos a praça da forma como ela era”, diz Claudio Siqueira, engenheiro da Samarco encarregado de coordenar as obras. “Mas com algumas melhorias. Colocamos piso tátil nela toda, para ficar mais acessível.” Quem vive ali, no entanto, tem dificuldades para elogiar o serviço. “Eles reformaram minha loja, trocaram o piso, pintaram. Mas até agora estou esperando minha vitrines. Eu que tive de comprar outras. E, mesmo assim, olha como eu exponho as coisas: no chão”, diz o comerciante Denilson Ferreira Carneiro, de 48 anos, que tem sua loja a poucos metros de distância da praça.

É em Barra Longa que o Rio Gualaxo do Norte, tingido de marrom pelos rejeitos de mina da Barragem de Fundão, da Samarco, encontra e contamina o Rio do Carmo, que forma o Doce. “Ninguém nunca mais pescou aqui. Nem viu peixe. Da ponte, antes, dava para ver os peixes nadando, indo atrás de peixes menores. Não tem mais nada disso”, conta Carneiro, que guarda no celular as fotos de pescarias.

Restaurações

Logo após o desastre, chamou a atenção o fato de que a lama que vinha sendo retirada da região da praça estava sendo depositada bem ao lado do rio, sob risco de voltar para a água, como o Estado revelou em novembro do ano passado. Na época, a prefeitura informou que era o único local disponível. O terreno abrigava o parque de exposições da cidade, usado para festas rurais.

Agora, essa lama vem sendo compactada e misturada com areia, para que o novo parque seja construído em cima. E o local terá ainda um campo de futebol, cujas bases também serão de lama. “Fizemos todo um trabalho de reforço e não há como esse material voltar para o rio”, diz o engenheiro Siqueira, da Samarco. Ele destaca ainda outros serviços, como a restauração e reforma das casas. “Para a conclusão do serviço, faltam ainda 11 casas”, afirma.

“Vão fazer um campo de futebol? Disso eu não estou sabendo, não”, afirma o comerciante Marco Antonio Ferreira Xavier, de 75 anos. Dono de um bar na Praça Manoel Lino Mol, ele passou o ano com seu comércio fechado, vivendo os primeiros meses de favor na casa de uma irmã. Voltou para casa – que fica em cima do bar – há algumas semanas.

Quem está em casa há mais tempo também reclama dos serviços. A aposentada Margarida Pereira, de 66 anos, afirma que acordou com a mineradora que a reforma de seu imóvel, também ao lado da praça, terminaria com a abertura de uma porta de seu quarto para o banheiro, para facilitar o acesso do marido, idoso. “Era preciso reforçar três vigas. Eles mandaram eu contratar um engenheiro, e eu trouxe um lá de Ponte Nova (cidade a uma hora de distância), mas eles não fizeram e eu estou esperando até hoje”, reclama.

O prefeito de Barra Longa, Fernando José Carneiro Magalhães (PMDB), afirma que a cidade passou por problemas com a dengue e por aumento de doenças respiratórias nos dois primeiros meses após o desastre. “Foi por uns dois meses. Inauguramos uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e a Samarco nos ajudou com outras obras, como uma escola de educação infantil, e vão fazer um aterro sanitário”, diz, ao ser questionado sobre a reclamação de moradores que têm de conviver prolongadamente com a poeira. “Foi pouca coisa”, diz. A expectativa da prefeitura é por mais serviços da empresa: “Ainda vão construir uma ponte”. “Eles (Samarco) ainda devem ficar aqui uns três, quatro anos.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.