O economista e professor de Princeton Paul Krugman disse hoje que o pacto social proposto pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, pode dar certo, como ocorreu na Irlanda. ?Se você olhar experiências anteriores, como a da Irlanda no início dos anos 80, que era de algumas formas até pior do que o Brasil hoje, o pacto social funcionou muito bem lá.?

O pacto social irlandês foi firmado inicialmente entre empresas, sindicatos e o governo, com o objetivo de controlar reajustes salariais inflacionários em troca de garantias e direitos trabalhistas. O pacto irlandês foi uma das alavancas de um extraordinário surto de progresso do país, concentrado principalmente na década de 90, que o levou da condição de nação em desenvolvimento para o mesmo nível médio do resto da Europa ocidental. Em aproximadamente dez anos, a Irlanda saiu de um desemprego de 18% para o pleno emprego, e o porcentual da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) caiu de 120% para menos de 50%.

Para Krugman, que participa da feira Expo Management em São Paulo, ?o Brasil está pagando um preço não merecido pela crise argentina? e os investidores exageraram em relação ao País. Ele disse que as agências de avaliação de risco ?deviam assumir parte da culpa? pela crise brasileira, já que as poucas agências de rating do mercado ?avaliam o passado, não o futuro?.

Mais aberto

O economista recomendou ao Brasil ser mais aberto comercialmente, mesmo que com acordos pequenos, parciais, e a ?jogar com a Europa? para pressionar os Estados Unidos a fazerem concessões. Mas Krugman tem pouca esperança em relação à abertura comercial do atual governo americano. ?A agricultura é um verdadeiro empecilho para a abertura global. Metade do Senado americano é eleito por apenas 16% da população, a maioria dos Estados agrícolas.?

Krugman tem sido um crítico ferrenho do governo do presidente George W. Bush, em artigos publicados na imprensa (inclusive no Estado). O economista vem batendo na política fiscal de Bush, que acusa de beneficiar os mais ricos com cortes de impostos, que teriam comprometido a solidez financeira obtida no governo de Bill Clinton.

Krugman tende a ver as pressões especulativas contra os países emergentes como relativamente ?injustas?, já que teriam origem numa falta de confiança dos investidores que nem sempre é embasada em fatos verdadeiros. Ele é uma das estrelas do neokeynesianismo, a corrente de economistas particularmente atenta às falhas do mercado.

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