Justiça cassa doze prefeitos em MT

Cuiabá – A Justiça Eleitoral de Mato Grosso já cassou doze dos 141 prefeitos eleitos em outubro. Os casos envolvem compra de voto, abuso do poder econômico e participação em eventos públicos no período proibido para candidatos. Sete deles tentavam a reeleição.

"É um número significativo, mas acredito que até o ano que vem teremos o dobro", disse o presidente da OAB-MT, Francisco Faiad, membro do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), ONG que denuncia compra de votos e abuso do poder econômico nas eleições e contabilizou 40 casos de irregularidades no estado em 2004.

Nas três ações já julgadas em instância superior, os desembargadores do Tribunal Regional Eleitoral confirmaram as decisões do juiz da comarca, mantendo as cassações. São os casos de Antônio Rodrigues da Silva (Poxoréu), Yolanda de Góes (Vale do São Domingos) e Getúlio Viana (Primavera do Leste).

Em uma das decisões mais recentes, assinada segunda-feira, o juiz Geraldo Fidélis Neto declarou inelegível a chapa do atual prefeito José Guedes de Souza (PPS), em Rondolândia, 1,6 mil quilômetros a noroeste de Cuiabá. O magistrado acatou a acusação dos adversários de que todos os eleitores da aldeia Zawyt Wawa, dos índios zorós, foram induzidos a votar em Souza, no que teria sido um treinamento para os índios votarem no 23, número dos candidatos majoritários do PPS.

A prova veio com a apuração. O candidato cassado, que disputava a reeleição com outros dois nomes, foi o único a receber votos na seção. Dos 255 eleitores, 232 votaram em Souza, contra um em branco e 22 nulos.

Segundo o juiz, o suposto treinamento teria sido oferecido por Selma de Oliveira Leonel, chefe do posto de serviço eleitoral em Rondolândia e também presidente da comissão de licitação da prefeitura – da confiança do prefeito, portanto. A manobra foi decisiva, já que Souza foi reeleito com 197 votos de diferença para o segundo colocado, Rubson de Carvalho (PSL).

Em entrevista por telefone, o prefeito defendeu-se das acusações. Ele disse que nas aldeias da etnia Zoró a prefeitura de Rondolândia melhorou as condições de infraestrutura, criando escolas de ensino médio, estradas, postos de saúde e implantando o transporte escolar.

"Se você for lá, não verá índio passando fome, doente. E além do mais, a principal liderança dos Zorós (cacique Humberto Zoró) é meu cabo eleitoral. Sabe como é: aonde o cacique vai, todos os outros índios vão atrás", afirmou ele.

A fraude também beneficiou dois moradores da aldeia que se elegeram vereadores. Entre eles, o próprio cacique Humberto e sua mulher Lygia Neiva, os dois mais votados na eleição proporcional, com 118 e 129 votos respectivamente no total. Dos 255 votos válidos na seção da aldeia, Zoró recebeu 115 e Lygia 111. Onze eleitores anularam e 18 optaram pela legenda, digitando apenas o 23 do PPS.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo