Sob fortes aplausos e em um plenário repleto de policiais militares no Tribunal do Júri de Ferraz de Vasconcelos, sete jurados absolveram, na quinta-feira, 23, os dois PMs acusados de matar Dileone Lacerda Aquino, em março de 2011, no Cemitério Parque das Palmeiras. O caso foi testemunhado por uma professora que ligou para o 190 e descreveu a execução em tempo real – na época, a gravação foi divulgada com exclusividade pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Os PMs, presos desde abril de 2011, tiveram suas algemas retiradas logo depois do anúncio da sentença. Os jurados decidiram por 4 a votos a 3 que os policiais Felipe Daniel Silva e Ailton Vital da Silva, autor do disparo, agiram em legítima defesa contra Dileone, que teria roubado uma van com medicamentos na companhia de outros dois comparsas.
A defesa argumentou que Lacerda tentou tirar o revólver do policial antes de receber o tiro na barriga. A justificativa para o fato de ter levado o suspeito para o cemitério foi a de recuperar parte das mercadorias roubadas, que estariam no local.
A professora e sua irmã, que testemunharam o crime, depuseram sigilosamente pela manhã, sem a presença da audiência e dos réus. O promotor Sérgio Ricardo Gomes disse que vai recorrer da sentença porque os jurados decidiram em contradição ao que apresentavam as provas. “Elas viram o crime, viram que a vítima estava algemada e não reagiu ao receber o disparo”, afirmou o promotor.
O advogado de defesa, Celso Vendramini, nega que Dileone estivesse algemado e apontou contradições nos depoimentos das testemunhas. Ele afirmou que as duas apenas ouviram os disparos, mas não viram a vítima reagir. No ano passado, Vendramini havia conseguido a absolvição de três policiais militares acusados de executar dentro da viatura um suspeito que estava sendo levado para ser socorrido, após suposto tiroteio.
Durante os debates, pelos menos duas vezes a plateia aplaudiu o advogado, que também vai defender seis policiais militares envolvidos em uma chacina no Campo Limpo, na zona sul. Ele citou diversas vezes a exibição do caso no Fantástico, da TV Globo, para mostrar a “parcialidade” da imprensa na cobertura de crimes. “Disseram que a vítima era pedreiro, mas na verdade era líder do PCC”, afirmou. Durante a comemoração da sentença, policiais e familiares dos réus se dirigiram contra jornalistas.
A mãe de Dileone, Fátima Lacerda, diz que não esperava a condenação dos PMs. “Tanto faz, não traria meu filho de volta.” Ela reclamou apenas de o advogado de defesa ter dito no júri que ela havia recebido R$ 100 mil de indenização. “Não recebi esse dinheiro. Ganhei só uma indenização de um terço do salário mínimo por mês.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.