A rotina do Tribunal de Justiça mudou com o julgamento de Fernandinho Beira-Mar. Os corredores, geralmente apinhados, foram ocupados por policiais armados e jornalistas.

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Pessoas que frequentam o fórum demonstravam temor com a presença do principal criminoso em atividade no país entre meados dos anos 90 e o início deste século. Alguns temiam pela segurança do prédio. Outros criticavam os gastos públicos com o transporte do criminoso.

Beira-Mar chegou ao tribunal de helicóptero blindado e sob forte escolta. O aparelho pousou no teto do edifício, no centro. Cumprindo pena em Porto Velho, ele veio ao Rio em avião da Polícia Federal (PF).

“Isso aqui está uma loucura”, disse uma mulher. Nos elevadores, o assunto era Beira-Mar. “É o traficante-celebridade”, resumiu um ascensorista.

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No 9º andar, à porta do 1º Tribunal do Júri, o movimento de curiosos e parentes de Beira-Mar era intenso desde cedo. Às 13 horas, com a chegada dos jornalistas, o espaço parecia pequeno para tanta gente -houve tumulto na entrada do público. No empurra-empurra estavam pelo menos 100 estudantes de direito, que fizeram fila por todo o andar para garantir lugar na sala. “Mas o meu Facebook também é um veículo de imprensa”, disse uma jovem ao lado de equipes de TV.

Estudantes alimentaram o Facebook com selfies tiradas com amigos nos intervalos do julgamento, no corredor do TJ. “Mãe, vou sair de madrugada”, avisou por celular uma jovem, garantindo que dormiria na casa de uma amiga.

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Quase duas horas e meia após o previsto, Beira-Mar entrou no plenário. Tinha a cabeça raspada, estava barbeado, vestia camisa polo e usava óculos. Sorria muito, o que incomodou o juiz Fábio Uchôa, que reclamou. “Quando fico nervoso eu rio”, disse o criminoso. No banco dos réus, sentado de pernas cruzadas, dava pequenos pulinhos, outra possível demonstração de nervosismo.

Articulado, Beira-Mar impressionava pelo vocabulário, mas errava plurais. Seu ex-companheiro de presídio Celsinho da Vila Vintém arrancou risadas do público ao responder quase todas as perguntas com a palavra “justo”.

Apesar das acusações, o julgamento transcorreu em clima tranquilo, por vezes cômico, até o fim. “Essa pastinha em cima da mesa é sua?”, perguntou o juiz Uchôa a um homem. “Achei que era uma bomba. Bolsa velha só pode ser bomba”, complementou, arrancando risos, inclusive de Beira-Mar. “O acusado gostou”, brincou depois, enquanto o traficante, sorridente, concordava.

Os únicos momentos em que a voz de alguém subia de tom eram protagonizados pelo advogado de defesa, Maurício Neville. Aos gritos, ele arrancava risadas com o jeito performático. Em ato falho, disse que Beira-Mar vende cocaína para todos, não importa a facção. “Vendia”, corrigiram, em coro, parentes do réu.