A juíza do Conselho Permanente de Justiça do Exército, Zilah Maria Petersen, manteve nesta sexta-feira (27) a prisão do sargento Laci Marinho de Araújo, que responde a processo por deserção, e decidiu submetê-lo a uma perícia neuro-psiquiátrica na próxima semana, com médicos civis do Hospital das Forças Armadas, em Brasília. "Continuo sendo judeu num campo de concentração", reagiu aos gritos o sargento Laci, ao deixar, algemado e escoltado, a sala da Auditoria Militar no Superior Tribunal Militar (STM), onde prestou depoimento.
O sargento Laci tornou pública sua relação homossexual com o ex-sargento Fernando Alcântara, que obteve baixa do Exército. Os dois revelaram a relação em entrevista que foi capa da revista Época. O Exército prendeu o sargento Laci, logo em seguida, depois de uma outra entrevista dos dois a um programa de televisão na Rede TV. Após um período fora da prisão, ele voltou a ser detido esta semana.
Laci foi levado para a cadeia da Polícia do Exército, no Setor Militar Urbano. "É uma homofobia estatal", criticou seu companheiro, que acompanhou a audiência. Ambos acusam o Exército de estar perseguindo Laci pela sua condição de homossexual. Segundo Fernando Alcântara, o desabafo do companheiro ao deixar a audiência demonstra que está "totalmente transtornado e sofrendo intensa tortura psíquica". Na sua opinião, "o ideal teria sido que ele, no estado emocional em que se encontra, fosse direto para o hospital e não para uma cela, o pior lugar para quem tem transtorno de pânico".
Depoimento
Em depoimento de duas horas na Auditoria Militar, o sargento Laci disse que o general Adelmar da Costa Machado Filho, em conversa com um subtenente chamado Reis, usou palavras chulas ao comentar seu relacionamento com o então sargento Fernando Alcântara, chamando ambos de "casal gay". Ele relatou também que o apartamento que divide com o companheiro, na Superquadra 3065 Norte, foi invadido por policiais do Exército na ausência dos dois, ocasião em que desapareceu um palm top.
A juíza Zilah Maria Petersen negou o pedido de liberdade provisória solicitado pelos advogados de Laci, que alegaram ter sido sua prisão inconstitucional e que seu cliente possui bons antecedentes e uma excelente ficha funcional em 13 anos no Exército. O Exército processa o sargento de deserção, porque não retornou ao trabalho, no Hospital Geral do Exército, após sua licença médica de dois anos ter vencido em abril. O Exército rejeitou o atestado médico que apresentou para não retornar ao hospital, considerando-o apto para o trabalho. O julgamento no STM ainda não tem data marcada.