A juíza da 3ª Vara Penal de Abaetetuba, Clarice Maria de Andrade nega ter sido negligente no caso da menina L., de 15 anos, que ficou presa por 24 dias, foi torturada e violentada sexualmente na mesma cela que dividia com vinte homens na delegacia daquela cidade do nordeste do Pará. Para ela, a prisão em flagrante da garota foi mantida porque o processo estava "formalmente perfeito". E diz jamais ter imaginado que L. estivesse misturada com homens.
Clarice resolveu quebrar o silêncio que se impôs desde que o episódio ganhou manchetes dentro e fora do Brasil, ao remeter à imprensa um pedido de direito de resposta sobre "notícias inverídicas" a respeito de sua conduta no caso. Na nota, ela trata a menina como maior de idade, afirmando que isso consta em todos os procedimentos que tramitam na 3ª Vara.
"Desde a primeira inspeção carcerária feita por mim na delegacia de Abaetetuba, em 3 de maio de 2007, verifiquei que havia uma cela menor (celinha) dentro de uma cela maior", diz a juíza, observando que ao receber o ofício do delegado solicitando a transferência de L., no dia 7 de novembro, 17 dias após a prisão "jamais imaginou que ela estivesse presa na mesma cela com homens". Também nega ter tido qualquer contato pessoal com L. porque o caso ainda estava na fase de inquéritos e não de interrogatório.
Quanto às acusações de que teria fraudado documentos sobre o pedido de transferência da menina, adulterando a data de ofício enviado à corregedoria do Tribunal de Justiça, segundo o presidente da CPI do Sistema Carcerário, deputado Neucimar Fraga (PR-ES), a juíza diz que elas são inverídicas. "A afirmação do deputado é frontalmente contrária ao meu depoimento prestado na sindicância realizada em Abaetetuba pelo corregedor do interior, e ao depoimento que prestei perante os membros da própria CPI".