O estudante Danilo Maralha Ribeiro, de 17 anos, que tem deficiência auditiva, foi retirado da sala e revistado por estar usando um aparelho de surdez, quando fazia a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no domingo, 5, em Santa Bárbara d’Oeste, no interior de São Paulo.

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O fato aconteceu justamente no ano em que o tema da Redação era “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil” e os candidatos deveriam apresentar “proposta de intervenção que respeitasse os direitos humanos”.

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Segundo a família, o aparelho foi retirado e devolvido danificado. Os pais registraram um boletim de ocorrência na Polícia Civil pelo dano e pelo constrangimento sofrido pelo adolescente.

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De acordo com a mãe de Danilo, a auxiliar odontológica Emirlei Ribeiro Maralha, quando o filho preencheu o formulário de inscrição, ele informou que tinha deficiência auditiva. “Ele tem deficiência total num dos ouvidos e parcial em outro. Na escola em que ele estuda tem auxiliar, por isso ele fez constar no formulário que não precisava de uma pessoa o ajudando. Ele não falou do aparelho, mas quando você coloca que é deficiente auditivo, imagina que já se presume que usa aparelho.”

O rapaz relatou que foi abordado por dois fiscais que o mandaram interromper a prova e sair da sala. O equipamento foi retirado e o jovem foi submetido a revista. O aparelho foi devolvido dentro de um saco plástico e teve de ser mantido sob a carteira.

“Quando foi usar, ele viu que não estava funcionando. Meu filho ficou transtornado com tudo isso, perdeu muito tempo e não sei em que condições ele conseguiu fazer a prova”, contou a mãe.

Ao saber do que acontecera, o pai de Danilo, Lourival Francisco Ribeiro, foi à Faculdade Anhanguera, onde a prova foi realizada, e falou com os organizadores do Enem. “Disseram que foi adotado o procedimento padrão. Não entendo, pois o Danilo estuda em escola pública e nunca teve esse tipo de problema.”

O filho chegou a dizer que não vai fazer a prova do Enem no próximo domingo, mas Emirlei acha que ele mudará de ideia. “A gente tem de respeitar o que ele decidir, mas a parte psicológica dele é muito boa. Acredito que ele vai na prova.”

O adolescente cursa o terceiro ano do ensino médio e faz curso técnico na escola do Serviço Nacional da Indústria (Senai). Ele pretende entrar em faculdade de Engenharia ou Educação Física.

Nesta terça-feira, 7, o pai levou Danilo à fonoaudióloga para avaliar os danos no aparelho.

Emirlei disse que a família ainda não decidiu que tratamento dará para o caso. “Por ora, estamos resolvendo a questão do aparelho, que tem custo alto, e cuidando do bem-estar do Danilo. Até o momento, ninguém do Enem nos procurou.”

O caso gerou repercussão em redes sociais. O dentista Marcelo Queiroz, que trabalha com Emirlei, lamentou a discrepância entre o desafios propostos aos candidatos e o tratamento dado ao adolescente. “Desafio dos alunos para se incluírem numa sociedade preconceituosa? Se na folha de inscrição constava que o candidato era deficiente auditivo, por que exigir que retirasse o aparelho? O maior desafio é a formação educacional para todos, não só para os surdos”, escreveu.

Procurado pelo jornal O Estado de S. Paulo para que se posicionasse sobre o caso, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia federal que administra o Enem, informou que, até a tarde desta terça-feira, os fatos ainda estavam sendo analisados pela equipe técnica. Segundo a assessoria, oportunamente será emitida uma nota.