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Jovem acorrentada pela mãe por vício em crack ainda não conseguiu tratamento

A adolescente D., de 17 anos, que foi acorrentada pela mãe ao pé do guarda-roupa por ser viciada em crack e sofrer ameaças de traficantes, ainda não conseguiu tratamento em clínica para recuperação de dependentes químicos. A garota está internada na ala psiquiátrica da Santa Casa de Sorocaba, interior de São Paulo, há 36 dias. Por ser menor, a mãe é obrigada a ficar com a filha – a ala tem portas com grades e vigilância 24 horas. “Estou cuidando dela, mas meus outros filhos estão sozinhos em casa”, disse a mulher, Solange Bueno dos Santos, de 43 anos.

Solange é catadora de materiais recicláveis e o dinheiro que conseguia, cerca de R$ 100 por semana, sustentava os filhos de 4, 13 e 16 anos. “Eles estão sem comida. Minha filha mais velha, que mora fora, está em casa cuidando deles, mas eu preciso trabalhar. Não entendo porque eu e minha menina temos de continuar no hospital”, disse. D. e sua mãe dividem a ala com doentes psiquiátricos e portadores de transtornos mentais adultos. “A ala foi criada para atender doentes mentais e dependentes em situação de surto, mas não tem estrutura para o processo recuperação”, afirma o vereador Rodrigo Manga (DEM), que acompanha o caso.

O psiquiatra Alexandre Quelho, que atende o setor psiquiátrico da Santa Casa, vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS), informou que a justiça determinou a internação da menina por 30 dias, mas ainda se buscam alternativas para o período pós internação. “O processo é sigiloso, mas em casos assim, após a alta, o paciente precisa de acompanhamento que dê sequência ao projeto terapêutico. Não podemos simplesmente mandar para casa.” O juiz Gustavo Scaf Molon, da Vara da Infância e Juventude de Sorocaba, foi contatado através da assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de São Paulo, mas não havia dado retorno até o início da noite. O Conselho Tutelar informou que a saída do local depende de se conseguir local adequado para prosseguir o tratamento.

A mãe decidiu acorrentar a filha depois que a menina contraiu dívidas com traficantes e era ameaçada de morte, na Vila Nova Esperança, bairro em que vive a família, na zona oeste de Sorocaba. Por causa do crack, a garota abandonou os estudos. Auxiliar de cozinha, a mãe deixou o serviço para cuidar da filha, mas não conseguia mantê-la em casa. Ela chegou a ser indiciada por maus tratos pela Polícia Civil por deixar a filha acorrentada durante 43 dias. A menina foi libertada no dia 13 de junho por guardas municipais, após denúncia anônima. “Eu a prendi, agora estou presa com ela”, disse a mulher, referindo-se à ala psiquiátrica onde passa os dias.

Pipas

Situação bem diferente é a vivida pelo adolescente I., de 17 anos, que a mãe acorrentou ao próprio corpo para que não usasse crack, em Itapetininga, interior paulista. Em 19 dias de internação, ele mostra sinais claros de recuperação, segundo o diretor da clínica, Pedro Henrique Ribeiro Araújo. “Ele vai ficar 9 meses em tratamento e fará um projeto de pós alta com a gente. Está sendo melhor do que eu esperava. Ele participa das atividades, joga futebol, solta pipas e lê livros. É um menino tranquilo, tem tudo para se recuperar.”

Araújo conta que o menor está na clínica como paciente involuntário, pois foi compelido pela mãe a ir para o local, em Bady Bassit. “A médica psiquiatra justifica a involuntariedade pelo fato de que, quando foi trazido para cá, ele não estava em condições de discernir. Hoje, já se pode dizer que ele está por vontade própria. Não teve crise de abstinência, relaciona bem com os colegas e se mostra muito participativo.”

A dona de casa Janiele Job Albuquerque, de 35 anos, acorrentou o filho ao próprio corpo porque o garoto furtou moradores vizinhos e estava sob ameaça de morte. O rapaz morava com a avó e, para comprar drogas, vendeu tudo o que havia na casa, inclusive uma das portas. As fotos do filho acorrentado foram parar na internet e a clínica de Araújo ofereceu tratamento gratuito. Ele está internado desde o ultimo dia 7.

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