Brasília
– O candidato José Serra (PSDB) voltou a usar na TV o episódio em que o adversário Ciro Gomes (PPS) chama um ouvinte de uma rádio baiana de “burro”. A estratégia, usada na semana passada, contribuiu para a queda de Ciro e ascensão de Serra nas pesquisas eleitorais. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) havia vetado o uso da imagem e da voz de Ciro no programa porque os tucanos haviam editado a fita, cortando a pergunta do ouvinte e reduzindo a resposta de Ciro.Desta vez, o programa primeiro mostrou uma reportagem do jornal O Globo na qual Ciro diz que nunca agrediu ninguém. “Isso não é verdade”, disse o locutor do bloco do PSDB. Em seguida, entra uma outra reportagem do mesmo jornal, relatando a declaração de Ciro ao ouvinte. “Agora, a íntegra da pergunta e da resposta”, afirmou o locutor para, em seguida, entrar a pergunta completa do ouvinte e a resposta também completa de Ciro.
“É por estas e outras que a gente pergunta: Ciro, mudança ou problema?”, termina o locutor. Os tucanos usaram a mesma estratégia de colocar as imagens no final do bloco, depois que a jornalista Valéria Monteiro se despediu dos telespectadores, a fim de descolar Serra do ataque.
Em Londres, a Economist Intelligence Unit (EIU) divulgou que a vitória de José Serra, do PSDB, é o resultado mais provável das eleições presidenciais, mas caso ocorra “o sucesso de um dos candidatos populistas (Lula ou Ciro Gomes), ele deverá responder às pressões de mercado através da adoção de políticas necessárias para restabelecer a confiança” entre os investidores. A consultoria alertou, no entanto, que caso Lula ou Ciro Gomes vença o pleito, há um risco de uma generalizada venda de ativos financeiros brasileiros antes ou depois da posse, concretizando a crise financeira que os mercados vêm temendo.
Num estudo contendo previsões para a economia mundial divulgado ontem, a consultoria salienta que a postura econômica de Serra é menos ortodoxa do que a do atual governo, com mais ênfase na política industrial e promoção de exportações, “mas representa um maior continuísmo do que os seus rivais”. A EIU acredita que a campanha de Serra será fortalecida com o apoio do presidente Fernando Henrique e do PSDB.
A ida de Lula, do PT, ao segundo turno, parece segura no atual estágio da campanha, afirmou a consultoria. “Entretanto, no segundo turno da eleição os seus tradicionais pontos fracos, que incluem a falta de experiência no Executivo e de educação formal, o colocam novamente em desvantagem, e os seus opositores provavelmente irão se unir para evitar a sua vitória.” A EIU salientou que o programa de Ciro Gomes “carece de coerência”.
“A sua retórica de campanha tem sido mais esquerdista do que a de Lula, rejeitando um acordo com o FMI e metas inflacionárias e sugerindo uma reestruturação voluntária da dívida, mas parece que seus aliados da direita, bem como seus detratores, duvidam de sua sinceridade”, disse a EIU. “A sua impulsividade, inconsistência e populismo, que lhe foram úteis nos primeiros estágios da campanha, poderão se transformar em pontos fracos na fase final da campanha.”
A consultoria observou que mesmo que José Serra vença a eleição, a nova composição do Congresso Nacional irá determinar o poder do Executivo para controlar a política econômica. Caso seja confirmada a previsão de que o próximo governo será capaz de restabelecer a confiança do mercado e que a recuperação na economia dos EUA é sustentável, a EIU acredita que o crescimento econômico do Brasil em 2003 ganhará força, com uma expansão de 2,6% do PIB.