Brasília – As disputas internas pela ocupação de espaço e pela influência nas decisões políticas e administrativas do governo levaram os dois principais protagonistas dessas brigas – os ministros da Casa Civil, José Dirceu, e da Fazenda, Antônio Palocci – a reforçarem seus times.

Dirceu, que a todo instante pede crescimento econômico urgente, formou dupla com o presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP); Palocci, que batalha pelo superávit primário de 4,25% e pela necessidade de equilíbrio fiscal para evitar a volta da inflação, levou para seu lado o ministro da Coordenação Política do governo, Aldo Rebelo.

“Está tudo muito claro. A briga agora é de duplas. E o desenho delas ficou evidente nesta semana, logo depois de os meios de comunicação mostrarem a força do ministro Palocci”, diz um auxiliar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Tanto é que o ministro Dirceu, que vinha fugindo dos jornalistas, voltou a dar entrevistas e a fazer discursos carregados de mágoa, nos quais passou vários recibos. Primeiro, falou que o País vive uma situação de esquizofrenia; depois, declarou sua fidelidade canina ao presidente”, diz o mesmo auxiliar de Lula.

Apesar das disputas internas, o presidente do PT, José Genoino, acha que há paz no governo. “Estou trabalhando em conjunto com os ministros Aldo Rebelo, José Dirceu e Antonio Palocci para tentar convencer os senadores a votar o projeto que fixa o salário mínimo em R$ 260. Se estão todos juntos, como podem estar brigando?”, pergunta Genoino. “Até onde sei, não há crise.” Para Genoino, o fato de João Paulo ter feito a defesa de José Dirceu no início da semana mostra apenas a solidariedade de dois companheiros do PT.

Reclamação

Outro petista importante na estrutura do governo contraria Genoino. Diz que Dirceu está tão magoado que não resistiu e foi se queixar ao presidente Lula da força que Palocci e Aldo Rebelo vêm acumulando, tanto dentro do Palácio do Planalto quanto no Congresso.

Uma reclamação de Dirceu a Lula teria sido motivada pelo fato de ele não ter sido enviado nem à Câmara nem ao Senado para dar as explicações sobre o aumento do salário mínimo. A missão foi entregue primeiro a Palocci, que utilizou argumentos econômicos, e não políticos, para defender o mínimo em R$ 260 nas visitas que fez à Câmara e ao Senado. Depois, as negociações ficaram a cargo de Aldo Rebelo.

Presidente vira nome de charuto

São Paulo – Mesmo com fama de “traidor” no Recôncavo Baiano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dá nome a uma linha de charutos nacionais que acaba de ser lançada pela fábrica Julian Bahia. É o Dom Lula, que o fabricante garante ser produto de primeira linha, mas de preço baixo – entre R$ 9 e R$ 11, a embalagem com duas unidades nas medidas corona e robusto. Apesar da caixa, que traz a foto de um “Dom Lula” muito parecido com o presidente da República – homem robusto de barba, com um elegante chapéu panamá -, o dono da Julian Bahia, André Dias, diz que o charuto não é exatamente uma homenagem. “O Dom Lula nunca existiu”, conta Dias. “É um fantasma que rondava o galpão das charuteiras.”

Dom Luiz, um “fantasma” namorador, virava e mexia era apontado como o responsável pela gravidez de algumas das centenas de mulheres que trabalham na classificação das folhas de fumo, as charuteiras. “São muitas mulheres, e pouquíssimos homens no galpão”, explica Dias. “Três por quatro, aparece alguma grávida. E em vez de pôr a culpa no Espírito Santo, como se fazia antigamente, inventaram o Dom Luiz, logo apelidado de Dom Lula.”

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