Brasília
– O presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), deverá ser o próximo presidente da Câmara. Ele já negociou o cargo com líderes e dirigentes de quase todos os demais partidos, inclusive do PFL.A decisão deverá ser formalizada na próxima segunda-feira, quando ele preside, ao lado do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, a reunião da Comissão Executiva Nacional do partido.
Dois fatores foram predominantes para essa decisão.
Dirceu percebeu que Lula ficou incomodado quando formadores de opinião na imprensa começaram a qualificá-lo como ??homem forte do governo??. Quem conhece o gênio do presidente eleito observa que ele não aceita ser tutelado. Para evitar atritos e não perder o poder que acumulou no partido nos últimos 10 anos, o presidente do PT decidiu ficar fora do Executivo.
Na presidência da Câmara, um poder independente, ele poderá fazer uma tutela institucional do governo e ampliar sua esfera de influência para fora do PT. Ao mesmo tempo, tentará influenciar na composição da nova direção do partido para manter o controle da máquina partidária nas mãos de aliados. Também foi determinante para a decisão a necessidade de Lula ter um homem forte e de confiança na presidência da Câmara, palco principal da batalha pelas reformas prometidas na campanha. O presidente do PT terá papel semelhante ao que Luiz Eduardo Magalhães, morto em 1998, representou no início do primeiro governo Fernando Henrique Cardoso.
Missão
A condução da reforma política deve ser a principal missão de Dirceu no ano que vem. O presidente Lula tentará aprovar no Congresso um pacote para induzir o fortalecimento dos partidos, que inclui a fidelidade partidária, o financiamento público e um sistema misto para a eleição proporcional. Com a definição da missão de Dirceu no governo Lula, fica aberto o espaço para que o prefeito de Ribeirão Preto, Antonio Palocci, seja o ministro-chefe da Casa Civil. Ele conquistou a confiança e a simpatia do presidente eleito ao longo da campanha e, como coordenador do programa de governo e da transição, adquiriu perfil adequado para ser o interlocutor do núcleo do governo com as demais áreas governamentais, com o Congresso e com representantes da sociedade.
Palocci preferiria um ministério com mais visibilidade. A Casa Civil tem caráter predominantemente executivo e não seria a melhor plataforma para suas ambições políticas. Ele está acompanhando a formatação do governo e pode pleitear o comando do Ministério do Planejamento, que o presidente Lula pretende valorizar em sua gestão, ou o do Desenvolvimento, que permitiria um estreitamento das relações com o empresariado paulista, capital importante para quem ambiciona disputar o governo de São Paulo.
PMDB disputa o Senado
Brasília
– O PMDB está na disputa pela presidência do Senado, mas já concordou em deixar para o PT a presidência da Câmara. O senador Renan Calheiros afirmou que, se o PT fizer uma proposta para que o PMDB faça parte da base de apoio, o partido se reunirá para avaliar a hipótese. “O natural é que o presidente da Câmara seja do PT e o do Senado seja do PMDB”, afirmou. O senador disse que aceitaria ser o candidato à presidência da Casa pelo seu partido, se for do interesse da Executiva. “O que o PMDB não vai aceitar é uma indicação passando por cima da bancada”.Calheiros negou que esta negociação de presidências no Congresso dependa de cargos e declarou que o partido não exigirá um ministério para se aliar à base governista. Segundo ele, o PMDB está interessado em contribuir com o bom desempenho do governo independentemente de sua situação junto ao PT. “Estamos vivendo uma situação nova, é a primeira vez que temos um operário na Presidência, muita coisa mudou. E temos que reaprender tudo.”
Dentro do PMDB, dois grupos podem disputar a presidência do Senado. De um lado, o atual presidente, Ramez Tebet (MS), que conta com o apoio de Calheiros e de grupos ligados ao atual governo. Do outro, José Sarney (AP) conta com os apoiadores de Luiz Inácio Lula da Silva e já tem o apoio de Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA).
PT insiste em votar MPs
Brasília
(AG) – O PT enfrenta na próxima semana o primeiro teste de votações no Congresso depois da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. Para o partido, é fundamental acompanhar e garantir a votação de algumas medidas provisórias que travam a pauta. Entre elas, 12 envolvem a reestruturação de carreiras de servidores públicos e a criação de órgãos, com emendas que, se aprovadas, implicariam em aumento de despesas no Orçamento de 2003. A maioria das emendas foi apresentada por deputados petistasDesde ontem, o líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha (SP), está fazendo contato com os líderes dos principais partidos, para viabilizar a votação. Ele esteve nos gabinetes de Inocêncio Oliveira (PE), líder do PFL, e no do líder do PSDB, Jutahy Magalhães (BA). Também falou por telefone com o líder do PMDB, Geddel Vieira Lima (BA).
O líder do governo, Arnaldo Madeira (PSDB-SP), avisou ao líder do PT que a decisão do governo é que se mantenha o texto original enviado pelo Executivo. Madeira sugeriu que João Paulo negocie com a bancada do PT e dos demais partidos de oposição a retirada das emendas ou a indicação de fontes para justificar o aumento das despesas. Nos bastidores, relatores de medidas provisórias relativas ao funcionalismo ameaçam emitir parecer favorável, deixando o PT em situação complicada.
João Paulo designou os deputados Walter Pinheiro (BA) e Paulo Rocha (PA) para negociar a retirada das emendas com as entidades que representam os trabalhadores. A idéia é convencer os sindicalistas a conversar sobre os aumentos a partir de 2003, já que não há receitas no Orçamento do ano que vem para cobrir o impacto dos reajustes.