Brasília – O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, reconheceu ontem, durante reunião com a bancada do PT na Câmara, que haverá mudanças na proposta de reforma da Previdência, com o aumento do subteto do Judiciário nos Estados para 90,25%, como reivindicam os magistrados. Dirceu considerou que a reforma da Previdência é questão resolvida após o acordo feito entre os partidos aliados para alterar pontos da proposta já aprovada na comissão especial e, assim, votar a emenda em plenário na quarta-feira.
As afirmações de Dirceu foram feitas em reunião a portas fechadas e relatadas por vários participantes do encontro. Em suas últimas declarações públicas, Dirceu e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vinham apontando para outra direção. Ou seja, mantinham o discurso em defesa do relatório do deputado José Pimentel (PT-CE), aprovado na comissão especial da Câmara e que fixa o teto salarial dos desembargadores em 75% do salário do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) – posição que desagrada à magistratura.
A Lula e ao governo não interessa assumir o recuo no caso dos salários e aposentadorias do Judiciário, o que seria interpretado como resultado das pressões dos juízes. Por isso o Planalto faz publicamente o discurso de defesa de sua proposta original, mas ao mesmo tempo deixa a decisão para a base aliada no Congresso.
No encontro fechado de ontem com os petistas, o ministro Dirceu admitiu à bancada petista as mudanças. O assunto volta a ser discutido amanhã, em nova reunião do ministro com os líderes aliados para tratar da estratégia de votação do texto básico da reforma na quarta-feira. Ao final de uma semana tumultuada para o governo, em que a viagem de Lula à África foi adiada para que o presidente ficasse no Brasil e conduzisse pessoalmente as negociações em torno das reformas, o ministro Dirceu chegou à reunião mal-humorado.
De cara, avisou que não daria entrevistas. “Não vou falar. Hoje não é dia de trabalhar. Hoje é sábado, eu devia estar na piscina”, disse Dirceu, revoltado ao ouvir perguntas de jornalistas. “Estou descansando, estou passeando.”
Aos deputados, no entanto, ele tratou de outras questões que preocupam o governo, além da aprovação das reformas. Dirceu manifestou sua preocupação com as cobranças por mudanças na política econômica. Disse que o “tempo político está encurtando” e que o governo precisa “apressar mais e ser mais eficiente para tratar do crescimento econômico e da agenda social”. O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), presente à reunião, pediu a Dirceu que cobrasse mais agilidade dos ministros da área social.