José Dirceu acerta com Lula a saída do governo

Arquivo / O Estado

Dirceu: ministro foi atingido por
dois grandes torpedos, os casos Waldomiro Diniz e dos Correios.

Brasília – O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, acertou na noite de segunda-feira com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu retorno à Câmara dos Deputados, para assumir a liderança do governo. Dirceu acrescentou para uma fonte da Reuters no Palácio do Planalto que sua saída deve ser acompanhada de outras mudanças, envolvendo ministros do PT e do PMDB.

Para marcar a data da decisão, o presidente Lula aguarda apenas uma avaliação do teor e dos desdobramentos do depoimento do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) ao Conselho de Ética da Câmara. "Estou aguardando as determinações do presidente para fazer o que for melhor para o governo, como sempre", disse Dirceu à agência Reuters.

O ministro relatou a poucos colegas de governo as três conversas que teve com Lula, na sexta-feira, no domingo e segunda-feira. Partiram desses ministros manifestações, públicas e reservadas, contra a transferência, o que pode levar o presidente a uma reavaliação, que o próprio Dirceu considera pouco provável.

Um desses relatos, feito no início da tarde, foi transmitido com o compromisso de que não fosse identificada a fonte. De acordo com esse relato, Lula considera que Dirceu pode ser mais útil ao governo comandando, do Congresso, a articulação da base política. Nessa posição, Dirceu terá de coordenar um acordo mais consistente com o PMDB, o maior e o mais dividido de todos os partidos aliados. O acordo envolverá necessariamente a indicação de novos ministros do PMDB.

Dirceu disse a Lula que está disposto a retornar à Câmara mesmo sem receber a liderança. Apresentou também as condições para aceitar a tarefa, entre elas a de manter sua influência sobre áreas que considera essenciais, como a Secretaria de Ação Governamental da Casa Civil, por exemplo.

A mudança ministerial mais ampla, decorrente da volta de Dirceu ao Congresso, antecipará um movimento que o presidente terá de fazer inevitavelmente em abril do ano que vem. Nada menos que 15 ministros precisarão deixar o governo, por exigência da legislação eleitoral, para disputar as eleições de 2006. Lula contou a Dirceu estar avaliando a sugestão de pedir os cargos de todos os ministros que têm mandato legislativo, mas esse critério não cobriria todo o espectro de mudanças que ele deseja fazer, segundo uma fonte do Palácio do Planalto. Dirceu já informou os principais integrantes de sua equipe sobre a nova situação.

Para o lugar do ministro, na Casa Civil, um dos nomes cogitados é o do governador do Acre, o petista Jorge Viana, que enfrenta vetos do PT de São Paulo. Lula estuda pelo menos um outro nome, ligado ao PT, para o cargo.

A assessoria de imprensa do Planalto reiterou ontem à noite, que o Dirceu continua no governo. Essa é a resposta que a assessoria tem dado aos jornalistas que indagam se Dirceu segue ou não no cargo, após os ataques lançados pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), no Conselho de Ética da Câmara.

Aparece a testemunha Karina

São Paulo – A revista IstoÉ Dinheiro desta semana antecipou sua edição para divulgar a mais nova bomba no escândalo das propinas envolvendo o governo Lula. A revista descobriu Fernanda Karina Ramos Somaggio, que entre abril de 2003 e janeiro de 2004, foi secretária direta do publicitário Marcos Valério de Souza, um dos donos da agência de publicidade mineira SMP&B.

Responsável pelas contas de duas estatais, os Correios e o Banco do Brasil, e ainda da Câmara dos Deputados, a SMP&B está entre as agências que mais cresceram nos últimos anos. Seu sócio, Marcos Valério, foi apontado pelo deputado Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, como um dos operadores do mensalão. ?Era ele quem pagava; era o homem de Delúbio Soares (o tesoureiro do PT) que carregava a mesada na mala?, disse Jefferson.

Como o parlamentar não apresentou provas, a cúpula do governo passou a atacá-lo. A secretária Karina estava numa posição privilegiada na equipe de Marcos Valério. E foi dessa posição estratégica que ela presenciou fatos relatados na entrevista que a revista publica e que podem endossar as denúncias de Jefferson. ?Já vi saírem malas de dinheiro?, disse Karina. ?Às vezes, mandavam tirar R$ 1 milhão, em dinheiro, no Banco Rural.?

Era Karina quem agendava os compromissos pessoais e profissionais de Marcos Valério, anotando tudo na agenda, que guarda em seu poder. Nela, constam os encontros, com dia, local e hora, entre Marcos Valério e vários dirigentes do PT. O interlocutor mais freqüente de Valério, segundo Karina, era Delúbio Soares. ?Eles se falavam pelo menos uma vez por semana?, afirma. O segundo na lista era Sílvio Pereira, secretário-geral do PT e reponsável pelas nomeações nas estatais. Ela cita até mesmo o ministro José Dirceu. ?O Dirceu e o Marcos Valério falavam diretamente? Segundo Karina, os encontros entre Valério e os petistas ocorriam sempre em hotéis. ?Tudo na surdina?, diz ela. Num deles, no Maksoud Plaza, em São Paulo, Valério teria se encontrado com Sílvio Pereira. Em outro, no Blue Tree, em Brasília, a reunião era com Delúbio Soares. Karina acusa o ex-chefe de organizar festas para dirigentes do Banco do Brasil. Festas em que, segundo ela, ?rolava dinheiro, rolava mulher?. Karina também afirma ter comprado passagens aéreas, com recursos da SMP&B, para uso pessoal da secretária do deputado João Paulo Cunha (PT-SP), na época em que ele presidia a Câmara dos Deputados.

Ainda em 2003, um irmão de Anderson Adauto, então ministro dos Transportes, teria ido à sede da SMP&B. ?Ele saiu de lá com uma mala de dinheiro?, diz Karina.

Grupos de WhatsApp da Tribuna
Receba Notícias no seu WhatsApp!
Receba as notícias do seu bairro e do seu time pelo WhatsApp.
Participe dos Grupos da Tribuna
Voltar ao topo