Jefferson não quer a cassação de Dirceu

  Válter Campanato / ABr
Válter Campanato / ABr

PTB de Jefferson: perdoando o inimigo
e iniciando carreira de cantor.

Brasília – O presidente do PTB, Flávio Martinez, afirmou ontem que retirará o processo de cassação contra o deputado José Dirceu (PT-SP) até amanhã. Segundo Martinez, o ex-deputado Roberto Jefferson, que teve o mandato cassado na semana passada e mentor do pedido contra Dirceu, avalia agora que foi usado como "massa de manobra" pelo PSDB e PFL. Ele argumentou que, se a oposição quiser, ela que abra um processo contra Dirceu no Conselho de Ética.

A retirada abre espaço para Dirceu renunciar ao mandato e assim preservar seus direitos políticos, até que outro processo contra ele seja aberto. As CPMIs dos Correios e do Mensalão já fizeram o pedido, mas o processo ainda não teve início. O PTB também pedirá a retirada de processo contra o deputado Sandro Mabel (PL-GO).

Indagado sobre o seu gesto, o ex-deputado Roberto Jefferson disse que não se importa se sua decisão beneficiará Dirceu. "Não tem problema que ele renuncie. Não quero mais nutrir ódio. Não tenho ressentimentos", disse. Cassado pela Câmara dos Deputados no último dia 14, Jefferson disse que há um acordo entre o PSDB, o PFL e o PT para que haja apenas duas cassações, a do ex-ministro e a dele. "Me senti usado pelo PSDB e PFL", afirmou. "Se quiserem cassar o Dirceu, que representem contra ele. Eu não vou colocar azeitona nessa empada. Já paguei o meu preço", acrescentou.

Jefferson duvida que o PSDB represente contra Dirceu. "No fundo, PSDB e PT são frutos da mesma árvore; fios da mesma pipa. Todos os dois fazem políticas que beneficiam os bancos que ganham uma barbaridade", disse. Se renunciar ao mandato, Dirceu poderá se candidatar em 2006. "Vou devolver o Dirceu incólume ao PT. Será um cavalo de tróia. Se ele voltar a assumir a presidência do partido, vou sentar no chão e rir muito", ironizou. Jefferson está em São Paulo para conversar hoje com executivos da empresa italiana TBA Records, que propôs ao ex-deputado que ele grave um CD com músicas italianas. "Se der certo, vou começar uma nova carreira", comemorou Jefferson.

O presidente do Conselho de Ética da Câmara, Ricardo Izar (PTB-SP), disse que um parecer da assessoria técnico-legislativa da Câmara informa que não tem efeito prático a decisão do PTB de pedir a retirada dos processos contra os deputados José Dirceu (PT-SP) e Sandro Mabel (PL-GO) do Conselho de Ética. Assim que soube da intenção de seu próprio partido, Izar pediu o parecer da assessoria. Izar vai submeter o parecer aos membros do conselho nesta terça-feira.

O presidente do Conselho de Ética admitiu, porém, que quem se sentir prejudicado pode recorrer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara ou ao Supremo Tribunal Federal (STF). O parecer argumenta que o processo agora é de interesse público, e que não é mais de interesse apenas do PTB. Ricardo Izar disse ainda que já falou com o presidente do PTB, Flávio Martinez, sobre o assunto, mas ele não pretende desistir de pedir a retirada dos processos.

O relator do processo contra Dirceu, Júlio Delgado (PSB-MG), disse que ficou indignado com a decisão do PTB. Segundo ele, a senha da pizza foi dada por Dirceu, ao votar nulo na votação do relatório que pedia a cassação do mandato de Roberto Jefferson. "Ele é zeloso demais, não cometeria esse erro. Nós, do conselho, não podemos oferecer ingredientes para essa pizza que está se formando. Está se configurando um grande acórdão", disse Delgado. 

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