Jefferson: ameaçadp de cassação, deputado tem de apresentar um |
Brasília – Depois de duas semanas de isolamento, o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), reaparece em público hoje, a partir de 14h30, para se defender no processo de cassação de mandato aberto pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara. É uma data especial para Jefferson, que completa hoje 52 anos.
Ele será ouvido sobre denúncia de que o PT pagava "mensalões" a deputados do PL e do PP em troca de apoio ao governo. As acusações do parlamentar foram feitas no momento em que o próprio tentava convencer que não comandava esquema de corrupção na Empresa de Correios e Telégrafos e no Instituto de Resseguros do Brasil (IRB).
A estratégia de Jefferson é se mostrar como acusador e não como réu, segundo deputados do PTB. Nas últimas duas semanas o parlamentar conseguiu sair do noticiário sobre cobranças de propina envolvendo aliados do PTB nos Correios e no IRB com ataques à cúpula do PT. Mesmo sem provas, Jefferson passou a ser o maior pivô da atual crise do governo, com acusações pesadas contra o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, o presidente do PT, José Genoino, e o tesoureiro do partido, Delúbio Soares. "Jefferson deve provar cada denúncia que ele fez", afirmou o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP).
"Ele é quem está em julgamento." O líder do PP na Câmara José Janene (PR), acusado de participar do esquema do "mensalão", disse que Jefferson será ridicularizado se não mostrar provas. "O local para apresentar provas é no conselho e não numa CPI", afirmou. Já o líder do PSDB na Casa, Alberto Goldman, disse que o fato de não existir provas não desqualifica a denúncia. Aliados de Jefferson ainda deixam no ar um certo suspense sobre as possíveis gravações. "O que ele vai dizer amanhã (hoje) é uma curiosidade que até nós temos", ressaltou o deputado Josué Bengtson (PTB-PA).
Da tropa de Collor à base de Lula
Brasília – Num primeiro momento, Jefferson mandou recados por meio de aliados e assessores de que tinha gravações de conversas comprometedoras com os ministros José Dirceu e Aldo Rebelo. Um dos interlocutores foi o líder do PTB na Câmara, José Múcio Monteiro (PE). Depois, Jefferson mudou de tática e disse não ter provas materiais das denúncias de pagamento de "mensalão", o que valeria era a sua palavra e sua trajetória de 23 anos na política, segundo a nova versão.
Com um passado no mínimo polêmico, Jefferson foi um dos integrantes da tropa de choque no Congresso do presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992), afastado do cargo após série de denúncias de corrupção. O próprio parlamentar confidenciou em entrevistas que o governo Lula tinha vergonha de tê-lo como aliado político.
O Conselho de Ética não tem prazo para votar o parecer sobre as investigações, que será enviado ao plenário da Câmara. Uma eventual cassação impediria o parlamentar de disputar qualquer eleição até 2015. O relator do caso no conselho é o deputado baiano Jairo Carneiro (PFL).
Presidido por Ricardo Izar, do PTB de São Paulo, o conselho é formado por 15 titulares. Destes, dez são de partidos aliados do Palácio do Planalto e cinco, da oposição. Teoricamente, o conselho vai investigar especificamente as denúncias do "mensalão", mas assessores da Câmara ressaltam que os escândalos nos Correios e no IRB também serão analisados.
Os integrantes do Conselho de Ética vão ouvir nos próximos dias pessoas citadas por Jefferson, como os ministros Ciro Gomes (Integração) e Aldo Rebelo (Coordenação Política), que teriam ouvido a denúncia do esquema de "mensalão". Também devem prestar depoimentos o deputado Miro Teixeira (PT-RJ), o tesoureiro Delúbio Soares, o ex-presidente do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes Sérgio Pimentel e o ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto. A deputada licenciada Raquel Teixeira (PSDB-GO) é outra que será ouvida. Ela confirmou ter recebido proposta para votar projetos de interesse do governo.
A sessão do conselho será transmitida pela TV Câmara. Telões serão instalados em salas da Casa para os que não conseguirem assento no plenário 9, onde deverá ocorrer o depoimento de Jefferson. Uma equipe de segurança legislativa fará a escolta do parlamentar, do apartamento em que ele mora, na Superquadra 302 Norte, até a Câmara. Amanhã, Jefferson vai prestar outro depoimento, na comissão de sindicância da Câmara, aberta para também investigar o envolvimento do deputado nos esquemas de corrupção.