Deputado, de olho inchado: agência de Brasília fazia pagamento a parlamentares. |
Brasília – O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) disse ontem, em depoimento na CPI dos Correios, que aceitaria participar de uma acareação com o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e com o deputado José Dirceu (PT-SP). Em seu depoimento ontem na comissão, o deputado revelou um fato novo em relação ao suposto mensalão pago pelo PT a parlamentares da base aliada.
Segundo ele, assessores de parlamentares estariam recebendo o mensalão numa agência do Banco Rural localizada no nono andar do Brasília Shopping, na capital. O uso da agência seria uma alternativa ao pagamento feito por meio de malas de dinheiro, de mais difícil operacionalização. O Banco Rural é o mesmo de onde o publicitário Marcos Valério de Souza fez saques superiores a R$ 20 milhões nos últimos anos.
Por isso, o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) pediu que a CPI encaminhe um ofício à administração do shopping pedindo a identificação de todas as pessoas que passaram pela portaria do prédio em direção ao nono andar desde janeiro de 2003. Segundo o deputado e o próprio Jefferson, a lista permitirá identificar os assessores e, conseqüentemente, os parlamentares que seriam beneficiados pelo esquema.
Jefferson foi depor ontem com um grande hematoma embaixo do olho esquerdo que seria resultado de um acidente doméstico. Em seu depoimento, disse que para descobrir o esquema do mensalão é preciso investigar também supostos saques do Banco do Brasil, e não só os do Banco Rural. Documentos do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontam para saques de R$ 21 milhões em menos de dois anos feitos pelo publicitário Marcos Valério de Souza, acusado de operar o mensalão. O dinheiro teria servido para pagar propinas a deputados da base do governo.
Ele se referiu ao publicitário Marcos Valério, acusado de ser o operador do mensalão, como ?versão moderna e macaqueada do PC Farias?, em referência ao tesoureiro da campanha do ex-presidente Fernando Collor, pivô do escândalo de corrupção e tráfico de influência que culminou no impeachment do então presidente, nos anos 90.
O deputado também criticou o sistema de financiamento das campanhas eleitorais e estimou em 10% o percentual do dinheiro que é declarado. Mostrando uma pilha de registros da Justiça eleitoral, ele qualificou a prestação de contas de campanha como o princípio da mentira: ?Não há eleição de deputado federal que custe menos de R$ 1 milhão, mas a média das prestações de contas é de R$ 100 mil?.
O deputado fez uma apresentação de propostas para reforma política que, segundo ele, são necessárias após as denúncias de corrupção em órgãos do governo. Ele afirmou que seu partido (responsável por indicações nos Correios e em outros setores da administração federal) defende a ?despartidarização da máquina do Estado?. Segundo Jefferson, é preciso reduzir o número de deputados e senadores por estados. E acabar com a figura do suplente de senador e do vice.