Alexandre é um homem violento que não se importava com a educação da filha Isabella. Anna Carolina Jatobá tinha ciúmes da menina e era igualmente descontrolada e agressiva. Esse foi o retrato do casal Nardoni traçado por Ana Carolina de Oliveira, a mãe de Isabella, em seu depoimento ontem no 2.º Tribunal do Júri. Ela chorou seis vezes. Seu relato sobre a morte da menina, em março de 2008, emocionou até uma jurada.
O julgamento do mais rumoroso crime da década começou às 14h17 de ontem. Mas a primeira testemunha só entrou no plenário do tribunal às 19h32. Era Ana Carolina de Oliveira, que passou a ser inquirida pelo juiz Maurício Fossen. A mãe começou a descrever a noite do crime. Contou que recebeu um telefonema de Anna Jatobá, que gritava: “Ela foi jogada, ela foi jogada.” Ana Oliveira não entendeu o que havia acontecido, mas, em companhia de quatro amigos, foi ao prédio dos Nardonis, o Residencial London, na zona norte de São Paulo.
“Anna Jatobá estava na calçada, saltei do carro e, quando fui subir a escada…” A mãe chorou, então, pela primeira vez. “… Aí, eu logo vi minha filha caída na grama, do lado direito de quem entra no prédio. Quando cheguei, eu a vi. Ajoelhei na frente dela. Coloquei a mão no coraçãozinho dela, que batia bem rápido, e o Alexandre gritava para invadir o prédio, que tinha ladrão.”
Em seu relato, Ana Oliveira disse que a madrasta também gritava. “O resgate não chegava lá, e ela não parava de gritar. Pedi para ela calar a boca que…” E a mãe chorou pela segunda vez. Prosseguiu contando que Anna Jatobá xingou e gritou em resposta que “aquela situação só estava acontecendo pela minha filha, que era por causa dela”. Ana contou que foi com a filha na ambulância até a Santa Casa. “Depois de um tempo, já na sala, a médica veio e me disse: ‘Sua filha morreu’…” Novo choro e o juiz perguntou se ela havia conversado com pai de Isabella naquela noite e depois do crime.
“Ele não me falou nada. Eu não conseguia ficar de pé. Fiquei no chão…” E Ana chorou. A mãe contou como conheceu Alexandre e disse que rompeu com ele porque descobriu que era traída. Isabella tinha 11 meses. Disse que o pai foi certa vez à sua casa armado e disse que ia matar a mãe dela, Rosa, e levar Isabella. Tudo porque não queria ver a menina matriculada em uma escola. Passou, em seguida, a relatar o ciúme que supostamente Anna Jatobá teria dela e da filha. Quando questionada se Isabella tinha algum sonho, novo choro. “Ela queria aprender a ler.”
Defesa
A defesa tentou mostrar que Isabella gostava do pai e pedia para visitá-lo. Quis ainda que Ana confirmasse os cuidados que a madrasta tinha com a menina e perguntou se ela não pensou em aborto ao saber que estava grávida. Às 21h52, quando seu depoimento terminou, Ana Oliveira foi surpreendida por um pedido da defesa.
O criminalista Roberto Podval exigiu que ela permanecesse no Fórum, em vez de ser dispensada. “Mas é desumano, ela não tem condições psicológicas”, disse o promotor Francisco Cembranelli. Podval insistiu. A lei estava do seu lado. O juiz determinou a permanência da mãe para o caso de ser necessário ouvi-la de novo. Ana deixou a sala do tribunal aos prantos. Foi a sexta vez que a mãe chorou.