Brasília – Em uma única nota, o governador de Minas Gerais, Itamar Franco (sem partido), inaugurou ontem uma crise com o PT e ainda criticou o presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele anunciou que irá ao Supremo Tribunal Federal (STF) na próxima segunda-feira para exigir o pagamento de R$ 1,2 bilhão de uma dívida da União com o estado. São recursos investidos pelo governo mineiro em obras em estradas federais. Itamar conta com o repasse do dinheiro para pagar o 13.º salário do funcionalismo estadual. A decisão está prevista em uma nota oficial, divulgada ontem pelo governador, na qual critica Antônio Palocci, coordenador de transição do futuro governo.
A revolta de Itamar contra o PT começa com o coordenador da equipe de transição, Antônio Palocci, que teria pedido ao ministro da Fazenda, Pedro Malan, o veto à medida provisória editada pelo presidente FHC, que viabilizaria o acerto de contas entre o estado e a União. O governador afirma que o PT o está tratando como adversário e que, com essa atitude, mais de 1,2 milhão de pessoas serão prejudicadas, direta ou indiretamente, pelo atraso do pagamento do 13.º ao funcionalismo.
“É lamentável o não-cumprimento do compromisso assumido pelo presidente da República comigo e com o governador eleito, Aécio Neves (PSDB). O mais constrangedor, pelo empenho que fizemos pela candidatura de Lula, é o PT nos tratar como adversário. Se houvesse dúvida, por parte da comissão de transição, poderiam ter-me chamado para esclarecimento quanto ao sistema métrico decimal e aritmética”, disse na nota. “O que nos resta perguntar é quem é afinal, hoje, o presidente da República? O ex-prefeito de Ribeirão Preto ou o professor Fernando Henrique Cardoso”, indagou o governador.
Antônio Palocci informou anteontem ao ministro Pedro Malan que o partido iria derrubar a medida provisória que permitiria repasse de R$ 1,2 bilhão em créditos devidos por obras em estradas federais. O governo estadual contava com os recursos para pagar o 13º salário aos servidores estaduais. A justificativa do Partido dos Trabalhadores é que este acordo poderia beneficiar outros estados que tivessem créditos pendentes com a União.
Ao ser comunicado da crise, o presidente nacional do PT, deputado José Dirceu, saiu pela tangente. Ele disse que só vai comentar as declarações do governador de Minas, sobre a medida provisória que asseguraria a Minas a devolução de gastos com obras em rodovias federais, depois de conversar com o coordenador da equipe de transição, Antônio Palocci. Dirceu adiantou, no entanto, que a medida provisória é extensiva a todos os estados e não apenas um encontro de contas com Minas Gerais.
Ele disse considerar natural uma consulta entre os dois governos já que quem vai fazer o encontro de contas com os estados é o governo Lula. José Dirceu disse que a equipe de transição queria fazer os cálculos para chegar ao custo total da edição dessa MP. Segundo ele, o valor chega a R$ 3 bilhões dos quais R$ 490 milhões iriam para Minas. Ele disse que o problema é do presidente FHC.
CUT entra em fase de “paz e amor”
São Paulo
– A Central Única dos Trabalhadores (CUT) vai atuar com autonomia frente ao governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que foi um dos fundadores da entidade, mas tendo como parâmetro o estilo “paz e amor” defendido pelo ex-metalúrgico durante a campanha eleitoral. Conforme o presidente da central, João Felício, anunciou ontem em São Paulo, que antes de deflagrar uma greve, por exemplo, a CUT quer negociar exaustivamente e participar de todas as grandes discussões do País, como Lula propõe a todos os setores da sociedade, sem, no entanto, isso representar uma trégua ao novo governo.“Não tem trégua. O que queremos é o espaço da negociação. Mas no estilo paz e amor que o Lula já defendeu. Nós vamos jogar rosas e não pedras. E rosas sem espinhos. A CUT vai atuar com autonomia, mas com paz e amor”, definiu João Felício, comunicando a posição da entidade depois de dois dias de reunião dos 132 dirigentes da direção nacional. Para começar a participar das discussões de temas nacionais relevantes para o País, foram formados seis grupos de trabalho que vão resgatar todas as propostas cutistas acumuladas em 19 anos para, depois de atualizá-las, até o final de janeiro, entregá-las a Lula em fevereiro. Os temas serão as reformas tributária, sindical e trabalhista, da previdência, agrária, as políticas de emprego e renda e as políticas sociais.
“Nós queremos discutir tudo, com o governo, com os empresários, com todos os setores da sociedade. Vamos ter posição para todos os assuntos”, disse João Felício,