Havia uma trilha de sangue na cena do crime que o assassino tentou disfarçar. Ela começava no carro de Alexandre Nardoni, de 29 anos, e continuava a partir da entrada do apartamento. Por tudo isso, a perícia chegou à conclusão de que a menina Isabella de Oliveira Nardoni, que faria 6 anos nesta sexta-feira (18), chegou ferida ao apartamento do 6º andar do Edifício Residencial London, na Rua Santa Leocádia, na Vila Isolina Mazzei, zona norte. Essas são algumas das revelações do laudo da perícia do Instituto de Criminalística (IC), que colocam Alexandre na cena do crime
Os peritos constataram que as marcas no pescoço da menina foram provocadas por esganadura. Pela extensão e o tipo das lesões internas, tudo leva a crer que a compressão foi feita por alguém não tão forte – daí as suspeitas recaírem sobre a madrasta da garota, Anna Carolina Jatobá, de 24 anos.
A trilha de sangue foi produzida por pingos que caíram de uma altura de 1,2 ou 1,3 metro de altura, o que é compatível com a altura do pai da menina. O rastro começa no carro de Alexandre, o Ford Ka estacionado na garagem do 2º subsolo do prédio, e só foi revelado após a aplicação do luminol (substância química que destaca manchas invisíveis a olho nu).
Havia sangue de Isabella na lateral direita da cadeira do bebê e entre os bancos, perto do freio de mão. Além disso, havia sangue no encosto do banco do motorista. As primeiras análises haviam dado negativo, mas os exames de DNA confirmaram a presença do sangue no veículo. Sabe-se ainda que a fralda, encontrada de molho com alvejante num balde dentro do apartamento, foi utilizada para envolver a cabeça da menina do carro até o apartamento.
Além da porta do apartamento, a trilha continuava, passando ao lado da mesa com seis lugares e do sofá de couro preto. Em seguida, os pingos mostraram que o assassino de Isabella levou a menina no colo pela sala onde estava a tevê de plasma de 50 polegadas até o corredor em direção dos quartos.
Uma gota foi identificada, por exemplo, na frente da porta do banheiro. O criminoso entrou na primeira porta à esquerda – o quarto de Cauã e Pietro, que fica antes do de Isabella. Ele pôs Isabella em cima da cama enquanto cortava a rede da tela de proteção, daí a mancha de sangue no lençol encontrada no quarto. Os exames de DNA comprovaram que o sangue de fato era de Isabella.
Foi então que o assassino escorregou e pisou no lençol da cama. É ali que foi encontrada a pegada característica do chinelo que Alexandre usava na noite do crime. A tela foi cortada rapidamente com uma faca e com uma tesoura – na roupa de Alexandre havia partículas de naílon da tela. Isabella foi segura pelas mãos a 20 metros de altura. Foi solta primeiro pela mão esquerda e depois pela direita. Havia uma mancha de sangue em forma de dedos de criança a 5 cm do parapeito da janela.
O fato de Isabella ter chegado ferida ao prédio desmente o álibi do pai. Em seu primeiro interrogatório, Alexandre afirmou que ela estava bem quando chegou ao prédio. Isabella dormia. Alexandre afirmou que levou a menina no colo até o quarto dela. Alexandre contou à polícia que levou Isabella sozinho até o apartamento enquanto sua mulher e seus dois outros filhos aguardavam na garagem. Segundo ele, quando voltou ao apartamento encontrou a tela da janela rompida e a criança havia sido jogada.
Não havia sinais de arrombamento no apartamento nem de uma possível invasão do prédio. Os peritos usaram um homem de 1,9 m de altura para exemplificar que seria impossível que alguém escalasse o muro dos fundos do prédio para entrar no imóvel. Concluíram que não havia possibilidade de que uma terceira pessoa tivesse invadido o prédio e matado a menina.
A trilha de sangue no apartamento foi desfeita às pressas pelo criminoso. O que ele não contava era que o rastro de gotas de sangue e a presença de manchas na fralda fossem detectadas pelo uso do luminol.
Os peritos também analisaram as fitas de vídeo do sistema de segurança do Edifício London e do prédio em frente. Em nenhum momento foi observada a presença de pessoa estranha ou veículo entrando no prédio no dia do crime.
Portanto, os dois únicos adultos que estavam no apartamento naquela noite eram o pai e madrasta da menina. Essa certeza se deve ainda a um dos princípios de toda perícia criminal: todo contato deixa uma marca. Nenhuma outra pessoa deixou marcas dentro do apartamento além dos dois acusados. Todas as marcas e vestígios no lugar foram feitos pelo casal e pelas três crianças.
Essas foram as provas principais que a polícia usou para convencer Alexandre e a madrasta a contar o que ocorreu na noite do crime. Para os policiais, os resultados da perícia não deixavam dúvida de que eles foram os autores do crime. Aliados a testemunhos que desmentiam os suspeitos, os laudos deram aos policiais do 9º Distrito Policial a convicção de que precisavam para acusar o casal. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.