Os irmãos Cristian e Daniel Cravinhos de Paula e Silva, assassinos confessos do casal Manfred e Marísia von Richthofen, foram postos em liberdade, ontem à tarde, três anos depois de serem presos. Eles deixaram a Penitenciária Estadual Odon Ramos Maranhão, em Iperó, no interior de São Paulo e voltaram às ruas beneficiados por um habeas corpus concedido pela 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O crime ocorreu em 31 de outubro de 2002, em São Paulo. O casal foi morto com golpes de barra de ferro na cabeça, desferidos pelos irmãos. Suzane, a filha dos von Richthofen e namorada de Daniel, abriu o portão da casa para os assassinos. A garota já tinha sido libertada dia 29 de junho deste ano.
A ordem de soltura dos irmãos Cravinhos, concedida terça-feira, só foi cumprida às 15h38 de ontem, depois de cumprir uma tramitação burocrática. O habeas corpus passou pelo Tribunal de Justiça de São Paulo e foi encaminhado ao juizo da 1º Tribunal do Júri de São Paulo, que expediu o alvará. O documento chegou por fax, às 14h30, às mãos do diretor-geral da penitenciária, Fábio Alessandro de Oliveira.
Os irmãos deixaram a penitenciária na Mercedes preta do advogado Geraldo Jabur, que os defende. O veículo, dirigido pela filha de Jabur, a também advogada Gislaine, rompeu a barreira humana formada por cinegrafistas e fotógrafos à frente do portão. Cristian e Daniel, sentados no banco traseiro, não quiseram dar entrevistas.
O carro passou direto pelo veículo em que os pais dos acusados, Astrogildo Cravinhos e sua mulher Nádia, esperavam havia duas horas pelos filhos. Segundo o pai, Cristian e Daniel seriam levados para casa de parentes, mas por pouco tempo. "Quero tê-los de volta na nossa casa o quanto antes."
Os irmãos souberam do habeas corpus terça-feira à noite, quando assistiam ao noticiário da televisão. "Vibraram e se abraçaram como se o time deles tivesse feito um gol", contou um funcionário da penitenciária. Eles ocupavam a cela 141 do pavilhão 1 com dois outros detentos. O presídio, com capacidade para 852 detentos, tinha 1.230 ontem, segundo o diretor. Outros 145 detentos estavam no anexo usado pelo regime semi-aberto. A maioria das celas dos três pavilhões era ocupada por 8 presos.
Os Cravinhos tinham televisor e rádio na cela, dotada de vaso sanitário e chuveiro. Faziam ali as três refeições do dia e passavam pelo menos 7 horas no pátio, usando um uniforme amarelo. "São presos de bom comportamento e tinham perspectiva de sair", contou o diretor-geral. "Depois que a Suzane saiu, essa expectativa aumentou."
No período da prisão, não receberam visitas íntimas. Todos os fins de semana eram visitados pelos pais e, eventualmente, pela avó paterna, dona Inês, de 81 anos. Eles conheceram na prisão um primo de Suzane, condenado por assalto. O rapaz foi transferido há alguns dias depois de se envolver em uma briga.
Apesar da penitenciária, de segurança máxima, abrigar presos de alta periculosidade, inclusive integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), os irmãos não tiveram problemas de relacionamento com outros detentos, segundo a diretora de reabilitação, Silvana Sônego Severino. "São pessoas diferenciadas, bem articuladas, diferentes da nossa clientela usual." Aos olhos dos presos, são criminosos como outros, diferente de Suzane, que sofre hostilidades pelo assassinato dos pais.
Daniel foi procurado por um empresário, interessado em que ele produzisse aeromodelos. Como estava na expectativa da soltura, recusou a proposta. Agora, segundo o pai, eles vão retomar suas atividades, enquanto esperam o julgamento. "Já conversamos sobre isso." Daniel vai produzir aeromodelos e voltar à faculdade de Direito, provavelmente no próximo ano. Ele cursava o primeiro ano quando ocorreu o crime. Cristian pretende trabalhar numa oficina de motos.