A família da vereadora do Rio Marielle Franco, assassinada em 14 de março no centro do Rio, ainda não recebeu nenhum tipo de proteção do Estado, segundo Anielle Franco, irmã da vereadora. Ela e outros familiares se reuniram nesta segunda-feira, 20, com o secretário estadual de Segurança do Rio, general Richard Nunes, no Centro Integrado de Comando e Controle (CICC), no Rio, para obter informações sobre a investigação do crime, que já se estende por 159 dias e ainda não chegou a nenhuma conclusão. Ela aproveitou para pedir proteção ao secretário.
“Tanto eu como a Mônica (Benício, viúva de Marielle) temos recebido ameaças, desde que a gente tomou a frente para falar (sobre o crime). São discursos de ódio, tanto pelas redes sociais como pessoalmente. A gente passa na rua, alguém fala alguma coisa, alguém segue. Ninguém colocou uma arma (em nossa direção), não chegou a isso. O secretário falou que (oferecer proteção) é dever do Estado. Eles vão tomar medidas, vão nos dar uma resposta. Pedimos (proteção em) alguma coisa de rota, para que a gente tenha segurança, porque nossa vida continue a mesma: temos ido trabalhar, levamos os filhos à escola, para que a gente tenha segurança (nesses trajetos). Por enquanto não temos nada”, contou Anielle.
Sobre a investigação, a irmã de Marielle afirmou entender a não divulgação de informações: “A gente entendeu que o sigilo era importante, mas não entendia o silêncio, e hoje a gente teve uma compreensão maior”. Mônica não esteve na reunião – da família de Marielle estavam os pais e a irmã.
A diretora executiva da Anistia Internacional no Brasil, Jurema Werneck, também participou da reunião com o secretário de Segurança. “Solicitamos audiência para ouvir do secretário o compromisso com as investigações, a garantia de que elas não serão afetadas pelo processo eleitoral, vão seguir imparciais, e a boa notícia é essa: o general reiterou seu compromisso com a investigação, e reiterou também sua solidariedade à família”, afirmou Jurema.
Ela tratou também da participação de promotores de Justiça que integram o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) na investigação do crime e a criação de uma comissão independente que acompanhe a investigação, mantendo o sigilo sobre ela, mas atestando à sociedade o andamento da apuração.
“Outra notícia é o futuro envolvimento do Gaeco, e o general disse ainda que está aberto a uma comissão independente que acompanharia as investigações. A proposta da Anistia Internacional é que organizações independentes e autônomas indiquem especialistas imparciais, sem vínculo com o Estado, e seria (montada) uma comissão de observação e acompanhamento para informar à sociedade se a investigação está correndo como deve, sempre preservando o sigilo. Esse mecanismo está em discussão e esperamos que ocorra o mais breve possível”, afirmou Jurema.
Segundo a diretora da Anistia Internacional, durante a reunião foi debatida também a participação da Polícia Federal na apuração do crime: “O general afirmou que a Polícia Federal já colabora com as investigações e não há nenhuma restrição dele em relação à participação da PF. Ele disse que a investigação avança, mas reconhecemos a importância de que ela transcorra em sigilo”, concluiu.