Um mundo mais quente, com nível do mar mais alto, derretimento de geleiras e maior variabilidade climática será um mundo com milhões de pessoas sob risco de inundações, com problema de disponibilidade hídrica, impacto sobre a segurança alimentar e extinção de espécies.
Essa deve ser a mensagem que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) vai trazer ao divulgar a segunda parte do seu quinto relatório de avaliação daqui a uma semana, no Japão. É o que se pode concluir de uma versão preliminar do Sumário para Formuladores de Políticas que vazou na internet, há alguns meses.
Na noite dessa segunda-feira, 24, (horário de Brasília), cientistas e representantes de governos começam a se reunir em Yokohama para definir o conteúdo final desta parte do relatório – um resumo acompanhado de tom político das principais conclusões do relatório do grupo de trabalho 2 do IPCC, que trata de impactos, adaptação e vulnerabilidade dos países a mudanças climáticas.
O texto é lançado cerca de seis meses após a divulgação da primeira parte do relatório. A mensagem agora é mais enfática sobre o que o aumento da concentração de gases do efeito estufa e as mudanças climáticas trazem de impacto para a vida das pessoas e dos ecossistemas.
O conteúdo é um pouco parecido com o que já tinha sido dito no quarto relatório do IPCC, divulgado em 2007. Mas há maior confiança dos cientistas nos alertas que estão sendo feitos e mais robustez na mensagem. “Os impactos das mudanças climáticas já estão sendo observados em todo o mundo”, escrevem os autores no rascunho. “E os impactos dos eventos climáticos extremos observados na última década, como ondas de calor, secas, inundações, ciclones e incêndios, revelam a enorme vulnerabilidade dos seres humanos e dos ecossistemas à variabilidade climática atual.”
Para o futuro, dizem, “as mudanças climáticas vão amplificar os riscos relacionados ao clima já existentes e criar novos”. Vão reduzir, por exemplo, a oferta de água renovável na superfície e nas fontes subterrâneas nas regiões subtropicais mais secas, intensificando a competição por água. A confiança dos cientistas nesse quesito, medida pela quantidade de pesquisas científicas em periódicos indexados, aumentou em relação a 2007. O dano pode ser maior ou menor, dependendo do grau de adaptação de cada local. Mas, lembram os cientistas, há limite para a adaptação.
Biocombustíveis
O Brasil quer evitar menções negativas à produção de biocombustíveis. No texto do rascunho, os cientistas comentam, com alto grau de confiança, que “o aumento do cultivo de culturas de bioenergia pode representar riscos para os ecossistemas e a biodiversidade, embora as contribuições da energia de biomassa para a mitigação possam reduzir riscos ligados ao clima”.
O alerta é feito em um tópico que discute ferramentas que podem tanto funcionar para a mitigação dos gases de efeito estufa quanto para a adaptação.
Para o governo brasileiro, o tom negativo talvez seja o ponto mais delicado do relatório, que em geral foi visto como um texto bom, que visa reduzir conflitos. “O País tem potencial econômico para os biocombustíveis e aqui não há competição com alimentos”, disse Mariana Egler, analista ambiental do Ministério do Meio Ambiente.