Mais de um mês após o início das manifestações nas ruas do Rio, as investigações para identificar os vândalos que se infiltram nos protestos pacíficos para depredar o patrimônio público e policiais militares acusados de cometer excesso contra manifestantes andam a passos lentos. Até o momento, a Polícia Civil pediu a prisão de apenas oito acusados de atos de violência nas manifestações. Já a Polícia Militar (PM) tem apenas um “estudo de caso” para avaliar a conduta dos agentes nos protestos. Além disso, o Ministério Público (MP) ainda não recebeu da PM as imagens gravadas por policiais à paisana.
O promotor Paulo Roberto Melo Cunha Júnior, da Auditoria Militar, instaurou inquérito no dia 20 para apurar denúncias de abusos supostamente praticados por policiais contra manifestantes. Os focos são os protestos dos dias 17 (na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, no centro); 20 (na prefeitura da capital fluminense, no centro), e 4 (na rua onde mora o governador Sérgio Cabral Filho, no Leblon, zona sul). O prazo para envio das imagens está perto do fim. “Vamos entrar em contato com os comandantes dos Batalhões de Choque do centro e do Leblon para cobrar. Em último caso, podemos entrar na Justiça com pedido de busca e apreensão, mas acho que não será necessário”, afirmou.
Em relação às investigações para identificar vândalos, Cunha Júnior disse que isso é atribuição da Polícia Civil. “A gente só sabe que as manifestações estão sendo filmadas. Mas isso é muito simplório. Só vai identificar o baderneiro eventual. Os grupos organizados que já vão para as manifestações com a intenção de depredar o patrimônio não serão identificados, já que estão sempre com os rostos cobertos. Até agora, não vi ninguém preso em decorrência de investigação da polícia. Todos foram presos em flagrante.”
Em nota, a Polícia Civil anunciou que a 5.ª Delegacia de Polícia (Lapa) abriu inquérito para identificar os adeptos integrantes da estratégia de protesto autointitulada Black Bloc (formada por jovens vestidos de preto e rostos cobertos, de cunho anarquista e que caminham à frente dos atos) e outros manifestantes “que agem com vandalismo durante os protestos”. A investigação tem apoio da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática, uma vez que Black Blocs e outros grupos usam a internet para defender atitudes violentas nos protestos. Seis pessoas foram identificadas em redes sociais por incitação e apologia ao crime. A violação, que é julgada no Juizado Especial Criminal, não prevê pena de prisão.
Oito acusados de vandalismo tiveram a prisão pedida, mas a Justiça só decretou a temporária por cinco dias de Arthur dos Anjos Nunes, de 21 anos. Indiciado por formação de quadrilha e dano ao patrimônio, Nunes foi identificado em imagens da imprensa tentando invadir o prédio da Assembleia Legislativa, em 17 de junho. O rapaz permanece foragido.
A Polícia Militar foi procurada duas vezes, mas não respondeu às perguntas da reportagem. No dia 2, a corporação confirmou que a Corregedoria ainda não havia aberto inquérito para apurar excessos cometidos por PMs. “O comando geral da corporação está fazendo um estudo de caso ao longo dos dias de manifestações para decidir sobre condutas individuais”, dizia a nota. A Secretaria de Segurança não se manifestou.