A internet tornou-se um balcão de anúncios de órgãos humanos, sobretudo rins. Em um ano, a reportagem do Jornal da Tarde encontrou um mercado virtual em que possíveis compradores podem escolher a idade do ‘doador’, sexo, tipo sanguíneo e até se compadecer com sua história dramática. Não é difícil constatar o comércio – ou ao menos a intenção de vender um órgão – hoje. Basta fazer uma pesquisa simples em qualquer site de busca com a frase ‘vendo rim’.
Em um ano, foram encontradas cerca de mil postagens, em pelo menos cinco sites, com um único objetivo: vender o próprio rim. Os anunciantes contam dramas econômicos semelhantes, quase sempre ligados a dificuldades para quitar dívidas. Alguns afirmam conhecer os riscos – legais e de complicações na cirurgia – e os questionamentos morais. Pelas leis brasileiras, tanto o anúncio quanto o comércio são ilegais e passíveis de prisão. A legislação permite doação entre vivos, que sejam parentes em até quarto grau. Desde 1997, é possível também fazer o transplante entre vivos que não tenham vínculo familiar, desde que a Justiça autorize.
Os vendedores em geral são homens ou mulheres com menos de 40 anos, esportistas, sem vícios e com família para sustentar. Ou têm um parente doente, que necessite de tratamento. Alguns até anunciam a negociação como uma mera doação, ‘mediante pagamento’. Ou afirmam aceitar um valor em dinheiro em troca do órgão. "A miséria oferece e a sociedade compra", sentencia o professor Volnei Garrafa, presidente da Seção Latino-Americana da Sociedade Internacional de Bioética (Sibi).
Em 2007, das 3.397 doações, 1.730 foram feitas entre vivos – os outros 1.667 transplantes tinham doador cadáver. Mas o Ministério da Saúde não tem estatísticas sobre doações entre vivos feitas por parentes. "Nunca recebemos nenhum tipo de denúncia formal. No entanto, acho que eventualmente isso pode acontecer", diz o presidente do Sistema Nacional de Transplante, Abrahão Salomão.