São José dos Campos (AE) – Até 2 de agosto o satélite NOAA-12, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), registrou 32.300 focos de fogo em todo o País, contra 43.600 no mesmo período do ano passado. Houve redução das queimadas na Amazônia – 36.100 em 2004 e 22.200 neste ano – e no Estado de Mato Grosso, mas isso não significa que teremos menos destruição neste ano. ?Agosto está apenas começando e não dá para prever o que vai acontecer?, diz Alberto Setzer, pesquisador do Inpe e especialista em queimadas.
Na quarta-feira foram 970 focos de fogo. Na terça-feira haviam sido 1.545. Os estados líderes do ranking são Pará, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Cada ponto detectado pelo satélite tem o tamanho de um campo de futebol. Entre os treze países da América do Sul o Brasil fica com a maior fatia dos incêndios: 73%.
?Mais de 99% dos casos são intencionais e nos períodos de seca. Nosso Código Florestal, de 1965, em seu artigo 27 é muito claro quanto à proibição do uso do fogo na vegetação e tenta evitar e punir seu uso incorreto – porém com resultados práticos bastante limitados?, lamenta Setzer.
Redução
Dois fatores, de acordo com Setzer, explicam a redução. ?O alto valor da moeda brasileira face às estrangeiras inviabiliza a abertura de novas áreas para a agropecuária e uma maior fiscalização pelo impacto negativo do desmatamento recorde no ano passado.?
Enquanto na Amazônia e em Mato Grosso houve queda, nos estados do Pará, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Roraima houve avanço. Em território paulista por exemplo, o volume de queimadas subiu de 1.300 para 2 mil focos de 2003 para 2004. No Pará, de 4.500 para 7.200. ?No estado de São Paulo vem se combatendo as queimadas cada vez menos. Percebe-se, que de quatro anos para cá, as campanhas promovidas pelo governo, como a Operação Mata-Fogo, estão com menor efetivo e menos eficazes.? A assessoria de imprensa do Corpo de Bombeiros não respondeu como e quando será a campanha contra queimadas neste ano no estado de São Paulo.
O especialista cita uma pesquisa publicada em abril pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o perfil dos municípios brasileiros com base em levantamento do ano de 2002. ?As queimadas e incêndios florestais se constituem na causa número um da poluição atmosférica do Brasil, indicados em 63% dos 5.560 municípios nacionais.?
Ele destaca que o documento traz um mapa de densidade de queimadas no Brasil, extraído do Atlas Nacional do Brasil Digital, também publicado pelo IBGE, em 2004. ?Curiosamente somos o primeiro País a incluir em um atlas o fenômeno das queimadas e incêndios causados pelos próprios habitantes. Sem dúvida, um marco importante para a compreensão da dimensão deste fenômeno e para a educação ambiental das próximas gerações.?
Excesso de fumaça causa problemas respiratórios na população do Acre
Rio Branco (AE) – A visão do sol ao meio-dia em Rio Branco, que aparece atrás de uma cortina de fumaça como uma bola alaranjada, indica que é temporada de queimada na Amazônia. As cinzas de vegetação queimada nas roupas dos varais não deixam dúvida, assim como a fila de atendimento no principal pronto-socorro da cidade, onde crianças se revezam nos aparelhos de inalação.
O Acre tinha 73 focos de calor quarta-feira, conforme imagens do satélite NOAA-12, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O estado superou Rondônia, que registrou 65 focos. Mas foi um caso atípico, segundo o secretário estadual de Meio Ambiente do Acre, Edegard de Deus.
?Rondônia, Mato Grosso, o Sul do Amazonas e a Bolívia queimam até 30 vezes mais do que o Acre?, argumenta o secretário com base no Programa de Monitoramento de Queimadas do Sistema Estadual de Informações Ambientais (Seiam). Ele sustenta que a fumaça sobre o Acre nesta época do ano vem dos estados vizinhos e da Bolívia, trazida pelas correntes de vento que sopram do sul e do sudeste. ?Não quero dizer que o Acre não queima, mas é a fumaça dos vizinhos que torna a situação insustentável?, declarou.
O Programa de Monitoramento registra diariamente os focos de calor em todo o Brasil. Os números mostram que as queimadas começaram a recrudescer na última semana de julho, mas o Acre só iniciou as queimadas no dia 2, com três focos. O Mato Grosso tem sido o recordista, com mais de mil focos entre 29 de julho e 3 de agosto. Na quarta, haviam 106 pontos de queimada naquele estado.
Edegard de Deus lembra que o que agrava o problema no Acre é que as queimadas registradas em Rondônia e no Sul do Amazonas ocorrem na divisa com o estado. Haviam 63 focos no Amazonas e outros 65 em Rondônia na quarta, a maior parte nas redondezas da Ponta do Abunã, uma área emergente da pecuária e da produção de soja.
A Secretaria Estadual de Saúde do Acre não dispõe de dados atualizados sobre o número de atendimentos de crianças com problemas respiratórios, mas calcula que representam 30% do total no Pronto-Socorro do Hospital de Urgência e Emergência do estado.
