Infectologista da Universidade Federal do Rio (UFRJ), Edimilson Migowski acredita que a chance de enfrentarmos uma pandemia do novo coronavírus nos próximos meses é “muito grande”. Para ele, hoje diretor do Instituto de Pediatria da UFRJ, o ideal para o país é impedir ou, ao menos, retardar ao máximo, a entrada do vírus no Brasil. Até agora, nenhum caso da doença foi registrado no País.

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Migowski recomenda a vacinação maciça contra a gripe comum, “para não sobrecarregar o sistema de saúde”, que tem poucos leitos com isolamento apropriado disponíveis no caso de uma epidemia. Ainda assim, o ex-coordenador de vigilância sanitária do Estado e ex-presidente do Instituto Vital Brazil consegue ver um lado positivo na crise. “Se os brasileiros redobrarem os cuidados com a higiene das mãos, a exemplo do que ocorreu em 2009 e 2010, vamos reduzir muitas outras doenças infecciosas”, disse.

Até agora, as únicas ações para deter o avanço do novo coronavírus são a quarentena, o isolamento dos doentes e as medidas simples de higiene, como lavar mais as mãos ou usar máscaras. Até que ponto tais medidas são eficazes?

Realmente, até este momento, as medidas que podem ser adotadas na prevenção dessa doença infecciosa são a boa higiene das mãos, manter distância de 1,5 metro a 2 metros das pessoas infectadas ou que apresentem algum tipo de infecção respiratória, principalmente se forem provenientes de alguma região de risco. Outra medida é que as pessoas que apresentam problemas respiratórios usem a máscara. As pessoas saudáveis só devem usar a máscara se estiverem convivendo com as infectadas.

Numa entrevista anterior, o senhor falou que na última pandemia enfrentada pelo mundo, de influenza H1N1, entre 2009 e 2010, a insistência global na mensagem sobre “lavar as mãos com mais frequência” acabou reduzindo a incidência de várias outras doenças infecciosas. A atenção redobrada com medidas simples poderia ser um aspecto positivo da mobilização mundial?

MIGOWSKI: Sim. De toda crise, podemos tirar algumas lições. Neste momento, a exemplo do que ocorreu entre 2009 e 2010, se os brasileiros redobrarem a atenção com a higiene das mãos, usarem álcool a 70% e lavarem as mãos com água e sabão várias vezes por dia, evitarem colocar as mãos não higienizadas nos olhos, na boca e no nariz; isso certamente vai reduzir bastante a incidência de diversas doenças infecciosas, como conjuntivite, gripe, resfriado, gastroenterite. Várias doenças podem ser evitadas de forma eficiente apenas com o cuidado redobrado com a higiene das mãos.

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O Brasil optou por trazer os cidadãos que estavam em Wuhan, epicentro da epidemia na China, e os deixar isolados por 18 dias. O senhor acha que essa quarentena é realmente necessária?

Acho prudente manter o grupo em quarentena por pelo menos duas semanas. A quarentena evita que o vírus circule entre nós. E quanto menor a circulação, melhor para todos nós. Outro detalhe importante é que essas pessoas estão vindo de lugares diferentes de Wuhan. Então, minha proposta é que elas fiquem isoladas delas mesmas. Quer dizer, que cada família fique em um local reservado e não tenha contato direto com outras. Porque se um desses brasileiros desenvolver a doença não vai submeter os outros ao mesmo risco.

Em sua opinião, quais as chances de o novo coronavírus se transformar numa pandemia mundial?

A chance de termos algo mundial é muito grande. É uma doença de transmissão respiratória, contagiosa entre as pessoas, um vírus para o qual 100% da população mundial é vulnerável. O potencial para uma pandemia é grande

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Se enfrentarmos uma pandemia, quais seriam as consequências mais graves para o País?

O grande problema de termos uma pandemia é que os pacientes desse novo coronavírus demandam isolamento respiratório e de contato. Alguns pacientes, cerca de 15% do total, evoluem para uma forma mais grave. Se muitas pessoas adoecerem ao mesmo tempo há um risco de sobrecarga do sistema de saúde. O número de leitos com isolamento, tanto no setor público quanto no privado, é muito restrito. Então podemos enfrentar uma falta de vagas apropriadas. Nem todos os doentes poderão ficar internados da forma ideal tanto para ele próprio quanto para os profissionais de saúde. Para evitar sobrecarga ainda maior, sugiro que todos se vacinem contra a gripe.

De que forma a vacinação maciça contra a gripe comum pode ajudar?

Embora a vacinação contra a gripe não proteja contra o novo coronavírus, muitos dos sinais iniciais das duas doenças são muito parecidos. Se tivermos uma boa cobertura vacinal, evitaremos a circulação do vírus da gripe e reduziremos o número de pessoas chegando aos hospitais com um quadro clínico inicial semelhante ao do coronavírus, causando confusão e sobrecarga.

Há alguma lição positiva que se possa tirar desse episódio?

Sim, a importância da higienização das mãos e de pessoas saudáveis manterem uma distância de 1,5 metro a 2 metros das enfermas. Seja o vírus que for. Um resfriado leve numa pessoa pode causar um quadro bem mais grave em uma outra, mais idosa. Uma outra lição importante é a do uso da máscara pelas pessoas que apresentem algum quadro infeccioso. Essas são lições que certamente poderemos levar para outras epidemias, sobretudo de vírus respiratórios.