Brasília – Os gramados da Esplanada dos Ministérios receberão – entre os dias 24 de abril a 3 de maio – o acampamento indígena batizado de "Terra Livre". No espaço, ocorrerá uma série de eventos e protestos contra a política indigenista do governo federal. Cinco malocas servirão para a realização de oficinas, seminários e manifestações culturais, entre outras atividades. A mobilização foi chamada de "Abril Indígena" e deverá reunir mais de 800 índios de todo o país, de acordo com estimativas do Fórum em Defesa dos Direitos Indígenas (FDDI), entidade que está organizando a manifestação.
No encerramento do "Abril Indígena", no dia 3 de maio, está prevista uma manifestação conjunta com os participantes da marcha organizada pela Via Campesina, entidade internacional de trabalhadores rurais. "O movimento indígena tem suas formas de luta e de se organizar e se diferencia, na sua especificidade, da luta do movimento dos sem terra. Mas existe algo que une os movimentos sociais, que é a busca por uma sociedade mais justa, e isso faz com que a gente busque alianças com os movimentos sociais, inclusive com o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), para que possamos de fato estar vivenciando neste país na prática a democracia", explicou o coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Jecinaldo Barbosa.
A Coiab é uma das entidades que integram o FDDI, composto também pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR), pela Associação Brasileira de Antropologia (ABA), pelo Instituto Socioambiental (ISA), pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), pelo Centro de Trabalho Indigenista (CTI) e pela Comissão Pró-Yanomami (CCPY). Segundo os organizadores, o "Abril Indígena" tem o apoio de organizações como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC).
Insatisfação
Em entrevista coletiva concedida ontem, o coordenador-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Jecinaldo Barbosa, disse que o objetivo da mobilização de movimentos indígenas que acontece neste mês de abril, no chamado "Abril Indígena", é retratar a insatisfação dessas entidades com a "a ausência de uma política pública do governo brasileiro para a questão indígena".
Na primeira quinzena do mês, as manifestações serão regionais. De acordo com Barbosa, o objetivo é chamar a atenção da sociedade para a questão. "Estamos decepcionados com a condução da política indigenista desse governo, que está retratando, na prática, o continuísmo de uma política autoritária, de imposição e de desrespeito às populações indígenas no Brasil".
No entendimento do coordenador do povo Satere Mawé, a falta de uma política pública do governo sobre a questão se reflete na lentidão na demarcação das terras indígenas e na inexistência de mecanismos de proteção dos territórios pertencentes a esses povos.