Sururu: “Sem acordo,
índio joga tora no rio”.

Brasília – Um grupo de 50 craôs e xavantes invadiu ontem pela manhã o plenário do Senado com duas toras de palmeira buriti, de 70 quilos cada, para protestar contra a destruição do Cerrado. Os índios burlaram a segurança, subiram a rampa do Congresso e fizeram orações entre as duas cúpulas do prédio, local fechado a manifestações nos anos 90.

Depois enganaram um parlamentar e conseguiram entrar no Senado com as toras, atravessar o plenário e colocar os símbolos de suas tribos em frente à mesa da presidência da Casa. Após a oração, os índios resolveram entrar no Congresso. Em frente ao espelho d?água o grupo foi barrado pelos seguranças. Nesse momento apareceu o senador Ney Suassuna (PMDB-PB), atraído pela multidão de fotógrafos e cinegrafistas. Suassuna tirou um celular do bolso e intermediou com a chefia da segurança a entrada dos índios.

“Vamos fazer um acordo, vocês poderão ir até a entrada do salão nobre, mas terão de deixar as toras na portaria”, propôs o senador. “Não senhor, a gente não consegue se separar da tora”, respondeu Hiparidi Xavante. O senador sorriu amarelo. “Sem acordo, índio vai jogar tora no rio”, ameaçou o xavante, olhando para o espelho d?água. Ao perceberem que os índios estavam ficando nervosos, brancos que organizavam o “Grito do Cerrado” pediram aos craôs e xavantes que aceitassem a proposta de deixar as toras na entrada do salão nobre. Chegando lá, Suassuna convidou os índios para tirar fotos ao seu lado e depois entrar, sem as toras, no Congresso. “Índio não quer foto, índio quer entrar com tora”, disse Hiparidi. Suassuna voltou a usar o celular e informou que o grupo poderia levar as toras até o plenário.

Os índios descumpriram o acordo e, no momento em que Suassuna posava para fotos ao lado de xavantes dentro do plenário, um grupo de índios pôs as toras nas costas e entrou no espaço de votações. “Não foi o combinado, não é o correto, não se pode fazer as coisas na marra”, disse Suassuna na mesa da presidência.

“Branco que planta soja e destrói rio também não é correto”, reagiu Hapyhi Kraô, outro líder indígena. Suassuna resolveu mudar o tom do discurso e finalizou pedindo que todos dessem as mãos e gritassem “viva o Cerrado”. “Só o Cerrado a gente não quer. Viva o Cerrado e viva o povo que mora no cerrado uma coisa não pode ser separada da outra”, disse Hiparidi Xavante.

As entidades ambientalistas organizadoras do “Grito do Cerrado” só tinham programado uma corrida de revezamento na qual os índios passam as toras para o companheiro sem deixá-las cair no chão.

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