Os indígenas do leste da Bolívia não reconheceram o estatuto de autonomia aprovado pelo departamento (Estado) de Santa Cruz há nove dias. Eles elaboraram um texto próprio, para abranger 34 povos originários dos 36 que habitam o país, informou um líder do setor. "O estatuto de Santa Cruz é ilegal, não o reconhecemos. Desde março estamos escrevendo um estatuto para os povos indígenas do oriente", disse Adolfo Chávez, presidente da Central Indígena de Povos do Oriente Boliviano (CIDOB).
Chávez explicou que a autonomia indígena outorgará a esses povos "formas de administrar os recursos naturais" nos seus territórios, tal como indicado na Declaração das Nações Unidas dos Direitos dos Povos Indígenas, aprovada no ano passado. A CIDOB agrupa indígenas do oriente, mas não aimarás e quíchuas, etnias majoritárias no ocidente e no sul da Bolívia. A entidade finalizou ontem um encontro e resolveu solicitar ao governo do presidente Evo Morales a aprovação em referendo do projeto constitucional.
O texto constitucional reconhece a autonomia indígena, proposta lançada pela CIDOB, aliada ao governo. O estatuto aprovado por Santa Cruz incorpora os indígenas dentro da autonomia da região, mas não reconhece a estes uma autonomia própria. "O projeto constitucional não é do governo, é nosso, nós propusemos a autonomia indígena e ela deve ser aprovada ao mesmo tempo que o referendo revogatório", disse Chávez. Evo convocou uma consulta revogatória para o dia 10 de agosto. Serão submetidos ao voto seu cargo, o do vice-presidente e os dos nove governadores.
Nesta terça-feira (13), a Corte Nacional Eleitoral pôs em marcha o calendário para a realização do referendo, uma tentativa para encerrar a crise política no país. A oposição critica a medida, temendo mais instabilidade. A crise boliviana gira em torno da reforma constitucional de corte indigenista, apoiada por Evo, e da demanda autonomista, liderada por Santa Cruz.