Indefinição salarial revolta militares

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O almirante Carvalho com o presidente Lula no lançamento do submarino
Tykuna, em março.

Brasília – A falta de definição do governo em relação à promessa feita em setembro de conceder 23% de reajuste para os militares provoca grande inquietação nos quartéis de todo o País e preocupa os comandos das Forças Armadas. ?Há um sentimento de preocupação muito grande?, disse o comandante da Marinha, almirante Roberto Guimarães de Carvalho. Segundo Carvalho, a situação salarial da categoria ?é muito séria?.

O comandante da Marinha não quis entrar em detalhes sobre as inquietações da tropa por não querer alimentar polêmica sobre a questão. Salientou, no entanto, que ?tem de acreditar? no que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse no discurso para saudar os oficiais-generais promovidos, no Palácio do Planalto, quando sinalizou com a possibilidade de aumento. Na ocasião, falou que queria que todos soubessem que ele e o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, trabalharão ?não apenas com vontade política, mas com carinho? para ver se encontram uma forma de discutir a questão salarial e a recuperação das Forças Armadas. Segundo Carvalho, o reajuste pretendido pela categoria é o que está previsto nos estudos realizados pelo Ministério da Defesa. O comandante não quis citar números, mas os estudos iniciais indicavam uma defasagem, no meio do ano passado, da ordem de 33%. O governo pagou 10% em setembro, prometendo a segunda parcela para até o primeiro trimestre deste ano, que não foi paga. No início da semana, novo estudo foi preparado pela Defesa, mostrando que a defasagem acumulada, agora, chega a 37%. Mas não há previsão de pagamento nem dos 23% que ficaram restando, conforme acerto na época. Alencar tem dito a todos que tenta convencer a área econômica a cumprir a promessa. Os recursos não foram postos no Orçamento deste ano. A folha de pagamento anual dos militares é de R$ 21,6 bilhões. Se o reajuste for concedido a partir de maio representará um custo adicional de R$ 14,4 bilhões na folha da Defesa.

Em abril do ano passado, houve a mesma polêmica, quando as mulheres foram à Praça dos Três Poderes pressionar por melhores salários. Essa manifestação gerou a primeira grande crise entre o então ministro da Defesa, José Viegas, e os comandantes militares. Na época, Viegas preferiu dizer que desconhecia as reivindicações, apesar das inúmeras manifestações dos comandantes em torno da apresentação de propostas e estudos sobre o tema. Viegas deixou o cargo em novembro, mas, antes, conseguiu pagar 10% e prometeu o restante para até março deste ano. Depois do protesto na cerimônia de terça-feira, no Quartel-General do Exército, as mulheres prometem para a próxima terça-feira o início de um acampamento na frente do Ministério da Defesa, por tempo indeterminado, até que saia o reajuste. Esse tipo de movimento, apesar de ser liderado por mulheres, é visto com muita preocupação pelos comandos militares principalmente pelo ineditismo, mas também pelas conseqüências que pode trazer, acirrando os ânimos nos quartéis. Mais de 500 pessoas devem participar do movimento, que contará, pela primeira vez, também com militares da reserva, que pretendem engrossar o coro por aumento de salário. Os militares ficaram ainda mais irritados com a autorização do Planalto em conceder um reajuste para a Polícia Militar do Distrito Federal, que é paga com recursos da União.

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