Brasília – O registro de candidaturas para as eleições municipais de 2004 intensificou o troca-troca partidário de deputados e senadores, reforçando o perfil de centro-direita da base aliada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com as migrações ocorridas até a tarde de ontem, PMDB, PTB PP e PL mantêm o maior número de deputados favoráveis a Lula – 222 – enquanto PT, PPS, PSB, PC do B e PDT – considerados mais à esquerda – somam 154 deputados.
Desde 2002, o quadro partidário no Congresso se altera, ora movido por imposições da legislação eleitoral, ora condicionado a interesses políticos pessoais e regionais, confirmando a falta de compromisso dos políticos com o partido que o elegeu.
O troca-troca não é novidade na vida parlamentar, sobretudo no início de governo e de uma nova legislatura. As mudanças partidárias redesenham a correlação de forças na Câmara e tornam nítida a vocação de parlamentares nos redutos da oposição ou do governo. “O eleitor vota é na pessoa e ninguém se importa com estas trocas”, afirmou o líder do PTB na Câmara, Roberto Jefferson (RJ), sem qualquer entusiasmo com a reforma política. O PTB é um dos partidos que mais recebeu adesões ao longo do ano, ao lado do PL. “Quem tem perfil governista, que é de centro e de direita e não tem como dar um passo à esquerda, vem para o PTB”, resume.
Juntos, o PTB e o PL têm 97 deputados. Um número superior ao PT, a maior bancada da Câmara, com 93 integrantes. Se quiserem fazer um bloco e disputar a presidência da Câmara em 2004, os petebistas e liberais não teriam obstáculos regimentais. O crescimento do PTB contou também com a ajuda do ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, que encaminhou muitos políticos à legenda, numa atitude que irritou o presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (PE).
A anarquia partidária, que se acentuou agora com o fim do prazo de filiação partidária para quem deseja disputar as eleições municipais, não atingiu, porém, o PT. A sigla de Lula continua intacta, mas aguarda duas adesões: os deputados Ariosto Holanda (PSDB-CE) e Lúcia Braga (PMN-PB). Na avaliação do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), essa estratégia de preservar o PT e inchar outras agremiações aponta desinteresse do governo na reforma política. Curiosamente, era o PT – precisamente o então deputado José Dirceu (hoje chefe da Casa Civil) e o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), atual presidente da Câmara – os principais interlocutores do PSDB quando, no mandato do ex-presidente FHC, houve uma tentativa de fazer a reforma política, parada na Câmara.