Do alto de uma arquibancada de madeira maciça, três moradores de rua observam o professor de ioga ensinando as posições alongadas no solo metros abaixo. Logo cedo, na Praça Victor Civita, zona oeste de São Paulo, alguns alunos se reúnem para a prática. A sombra das árvores cria um ambiente isolado e refrescante, mas não tão silencioso, já que a Marginal do Pinheiros está a poucos metros.
Ao redor da aula e dos moradores de rua, pichações, lixo jogado por todos os lados, banheiros quebrados e sem torneira, mato alto e mosquitos tomam conta do espaço. Na praça, abandonada e vandalizada, o que ainda resiste é um coletivo de moradores do entorno, que mantém o espaço. Há seis meses, o Praça Via tenta garantir um restinho de vida ao local, com as aulas de ioga pela manhã e de pilates à tarde.
Não tem sido fácil, porém, continuar no local, conta a professora de pilates Mariana Souza. Não somente pelo abandono do poder público, diz ela, que tem pecado pela manutenção, mas também pelos casos de roubo. “Tudo que é de alumínio levam. Roubaram torneiras e barra para deficientes do banheiro, maçaneta das portas e também fiação elétrica. Não temos nem luz nem água”, conta Mariana, que usa uma sala nos fundos do anfiteatro.
Em 2018, ela teve os equipamentos de pilates roubados por pessoas que invadiram a sala e levaram os armários – um prejuízo calculado em R$ 500. Mariana e um professor de ioga cobram R$ 10 de cada aluno por prática. As aulas ocorrem pela manhã e à tarde no anfiteatro, espaço com capacidade para 250 pessoas, onde costumavam ser realizados espetáculos de dança e contação de histórias. “Eles são um ponto de luz aqui. É o que ainda resiste de vida”, diz a secretária Ana Maria Ventura, de 54 anos, que trabalha na região e gosta de passear na praça – pela manhã, porque à tarde já é perigoso. “A gente não sabe o que pode encontrar.”
Da inauguração, em 2008, até 2012, a Praça Victor Civita foi gerida pelo Instituto Abril, entidade da empresa editorial homônima. Depois, a gestão foi assumida pela Associação Amigos da Praça Victor Civita, formada pelas empresas Elemidia – que chegou a pertencer ao Grupo Abril – e Editora Abril. Mas a parceria foi encerrada em janeiro.
Uso
A praça fica aberta das 8 às 18 horas e a entrada se dá por apenas um portão. Os outros dois são mantidos fechados para que o vigia tenha mais controle sobre o espaço de 13 mil m2.
O único vigilante, que pediu para não ser identificado, confirma os roubos no espaço, mas culpa a Prefeitura. “Tiraram o vigia noturno no ano passado. Depois disso, quando chego de manhã, vejo que consumiram drogas aqui à noite.”
O vigilante também critica a limpeza. Segundo ele, as equipes de zeladoria passam pelo local sem frequência definida. “De vez em quando, eles vêm, no máximo uma vez por mês.” Na praça, toda construída de madeira, sem contato direto com o solo, o mato alto atrai mosquitos. Por baixo das passarelas de madeira, o lixo se acumula por todo o verde do local.
Em nota, a Prefeitura informou que a praça está sem termo de cooperação. Quando isso acontece, a manutenção é “realizada pelas equipes presentes nas subprefeituras, que precisam capinar no mínimo 70 m² por mês, por equipe, e também de acordo com as demandas da Central SP 156”, disse a administração municipal. Os gastos com a praça somam R$ 30,6 mil por ano.
Sobre o vigilante noturno, a Secretaria Municipal das Prefeituras Regionais afirmou que a Subprefeitura de Pinheiros “está apurando o caso e tomará as providências necessárias”. Procurada pela reportagem, a Editora Abril não se manifestou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.