O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em discurso exaltado, reclamou das críticas dos jornais e disse que a imprensa foi “pequena” ao afirmar que ele convocou o Encontro Nacional com Novos Prefeitos e Prefeitas para anunciar medidas de apoio às prefeituras e, assim, promover a candidatura presidencial da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. De improviso, falando para 3,5 mil prefeitos, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, Lula disse que ficou “frustrado e triste” ao ler os jornais desta terça-feira (10). Recentemente, o presidente declarou, em entrevista à revista Piauí, que não lê os jornais.
“Fiquei triste como leitor, porque abusaram de minha inteligência e pensam que o povo é marionete e pensa como boi, como manada”, afirmou. “Mas acabou o tempo em que alguém achava que poderia influenciar uma eleição por ser formador de opinião.” O presidente reclamou ainda da interpretação de alguns veículos da imprensa de que o pacote de medidas anunciadas nesta terça de ajuda aos municípios – como o reparcelamento das dívidas das prefeituras com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) – foi um “ato de bondade”.
Um dos jornais, disse Lula – sem identificá-lo – “foi mais longe” ao questionar “Como o presidente vai dar dinheiro para bandido?” Lula lamentou: “Como é fácil julgar as pessoas e condenar sem dar sequer uma oportunidade para vocês provarem que não são ladrões como eles escrevem.” Sempre em tom exaltado, o presidente disse que não se poderia calar. “Outros (jornais) foram além e disseram que (o pacote de medidas) é um ato para promover a ministra Dilma Rousseff. São pessoas pequenas.”
Pouco antes, Lula tivera o constrangimento de ver o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, ser aplaudido de pé pelos 3,5 mil prefeitos presentes ao reclamar do governo federal, afirmando que o plano de repactuação das dívidas das prefeituras com o INSS é insuficiente. O governo anunciou que essas dívidas, antes pagas em 60 meses, passarão a ser quitadas em 240 meses.
‘Insinuações grotescas’
No discurso, Lula centrou seus ataques na imprensa. “Não é porque a imprensa me ajudou que fui eleito, mas porque suei para enfrentar o preconceito e o ódio dos de cima para com os de baixo”, afirmou. “Eu posso ter a minha postura, mas não perco a minha vergonha e o meu caráter”, declarou, qualificando as interpretações de jornais de “insinuações grotescas”.
Enquanto Lula discursava, assessores do Palácio do Planalto também reclamavam do enfoque da imprensa sobre o encontro dos prefeitos. Comentavam que a reunião havia sido marcada há muito tempo e que, portanto, não era justo associar sua realização com a futura candidatura da ministra Dilma Rousseff à Presidência da República.