Lula: brasileiro acha que é honesto, |
São Paulo – Apesar de a oposição evitar tratar do assunto e, toda vez que fala nele, alegar que a prioridade é investigar as denúncias e preservar a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a realidade é que a palavra impeachment começa a ser sussurrada outra vez na política brasileira. Isto porque a evolução da crise detonada com a gravação de proposta de propinas nos Correios atingiu uma temperatura crescente que envolve diretamente o presidente da República.
Um exemplo de como isto pode acontecer está em reportagem de capa desta semana da revista Veja. Ela traz pesquisa encomendada a Ipsos-Opinion, na qual revela que 55% dos brasileiros acreditam que Lula sabia da corrupção no governo. Isto é grave. Porque se se comprovar que realmente foi informado de tudo e nada fez, Lula pode se tornar alvo de um processo de impeachment.
A revista observa que como a mulher de César, não basta a um presidente ser honesto. Ele precisa parecer honesto. "E, infelizmente, na percepção da maioria dos brasileiros, Lula já começa a não parecer tão honesto ou capaz de garantir a honestidade de seu governo. A lama da corrupção, na qual soçobrou o Partido dos Trabalhadores, sujou sua imagem", diz a reportagem.
Na pesquisa, 55% dos brasileiros acreditam que o presidente sabia, sim, do esquema do mensalão, montado por seu partido para pagar políticos da base aliada. Desses, 16% apontam: Lula não só sabia como estava envolvido. Os outros 39% crêem que, informado sobre o esquema, ele foi omisso.
O dado conflitante que emerge da pesquisa é que, apesar de a maioria acreditar que Lula sabia do esquema, 55% da população afirma que o presidente é honesto. A percepção popular negativa, evidentemente, não significa que o presidente seja culpado. O problema, é ele parecer culpado. A falta de credibilidade que nasce da aparência de culpa não coloca em risco somente o projeto de reeleição de Lula (cada vez mais remota). Ela afeta a governabilidade. Um governo precisa ter a confiança da população para traduzir-se plenamente no verbo governar. É essa confiança que lhe permite muitas vezes adotar medidas duras porém necessárias. De acordo ainda com a pesquisa, o PT, que dava a impressão de ter o monopólio da honestidade, hoje é visto como "um partido de larápios". Apenas 36% da população acha que o PT é honesto. E chega a 54% a parcela dos que acreditam que toda a cúpula do partido está envolvida em corrupção. O que inclui o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, que foi o homem mais forte do governo nos primeiros trinta meses da gestão Lula. "Para o eleitor, o PT acabou no sentido de ser um partido diferenciado dos outros", afirma Carlos Augusto Montenegro, do Ibope.
O pior é que fica cada vez mais difícil acreditar que Lula não sabia de nada. Diz-se que o presidente teria tomado conhecimento das denúncias do mensalão em mais de uma ocasião. O deputado Roberto Jefferson afirma que contou tudo a Lula em janeiro. Essa versão foi confirmada pelo ministro de Coordenação Política, Aldo Rebelo. O líder do PTB na Câmara, José Múcio Monteiro, declarou ter presenciado outro relato feito por Jefferson ao presidente. E o governador de Goiás, Marconi Perillo, afirma que relatou a Lula no ano passado o pagamento de mensalão a parlamentares da base do governo.
No entanto, se as CPIs em curso no Congresso comprovarem a existência do mensalão e se for provado que o presidente foi informado de tudo, Lula estará numa situação crítica. A omissão, aqui, pode ensejar a abertura de um processo de impeachment.
Os ministros que ficaram com Lula estão divididos entre os que acham que ele deve se preocupar apenas em concluir o mandato e salvar a biografia e os que acham que ele pode sair da crise e conseguir um novo mandato. Nos últimos dias, começou a ter eco em Brasília uma idéia surgida no ninho do PSDB. Por ela, Lula deveria articular uma saída honrosa para desistir da reeleição. O caminho seria aprovar com o apoio dos tucanos uma emenda constitucional eliminando essa alternativa. Por enquanto, Lula não cogita levar o projeto adiante.