Igreja denuncia execução de povo de rua em Alagoas

Na capital de Alagoas, praticamente 1 em cada 10 moradores de rua, de uma população estimada entre 300 e 400 pessoas, foi morto neste ano – o 31.º assassinato foi registrado ontem. São três casos em média por mês, ante dois casos em todo o ano passado, e até o governo acredita na ação de um esquadrão da morte, com a possível participação de policiais. Até agora, ninguém foi preso e o Brasil pode ser denunciado à Organização das Nações Unidas (ONU).

O alerta é do governo federal, mais especificamente da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, que já pediu ao Ministério da Justiça a entrada no caso da Polícia Federal. No fim de semana, a Arquidiocese de Maceió tornou púbica carta em que cobra providências das autoridades e pede auxílio aos católicos e pessoas de boa vontade para que “contribuam, com suas atitudes, para criar um clima de verdadeira fraternidade e de efetiva justiça”. “Exortamos todos a defender a vida”, disse, comovido, o arcebispo d. Antônio Muniz.

Segundo o promotor de justiça Alfredo Gaspar de Mendonça, do Grupo de Combate às Organizações Criminosas (Gcoc), a morte ontem do homem chamado Timbalada está relacionada ao assassinato de outro morador de rua, o Cotó, que foi executado a tiros em circunstâncias parecidas na semana passada. “Ele foi ouvido e disse que estava ameaçado de morte, mas dispensou a proteção oferecida pela instituição. Preferiu continuar nas ruas”, lamentou o promotor. “Nós sabíamos que alguma coisa ia acontecer com ele. Terminou tombando.”

“O modo como morreram essas pessoas chama a atenção por si só. Bastava o primeiro caso para que uma solução fosse apresentada pelas autoridades, mas é evidente que há alguma carência para as investigações serem concluídas”, observou o coordenador do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional da População em Situação de Rua, Ivair Augusto dos Santos. O governo informou que esperava o fim do período eleitoral para realizar prisões – e se recusa a dar números oficiais. A reportagem conseguiu confirmar 23 casos, antes de a Igreja divulgar há três dias uma lista com 30 casos.

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