Sem esconder a irritação, o governo federal destacou nesta quinta-feira, 24, que a expectativa de anos na escola chega a 16,3 no Brasil, um número mais atual e superior aos 15,2 usados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no relatório do
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Pelo discurso do governo, uma criança brasileira que começa a estudar agora ficará em salas de aula o mesmo tempo que um estudante na Alemanha. O indicador nacional estaria à frente do período na Suíça (15,7), no Canadá (15,9), na Suécia (15,8), no Reino Unido (16,2) e no Japão (15,3).
Com dados atuais ou antigos, o indicador de tempo de escola sozinho está longe de ilustrar um bom desempenho de um país na educação. “Num local de reprovação grande, evasão grande, indicador de anos esperados de escolaridade não quer dizer muita coisa”, afirma o professor Luiz Araújo, da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília. “Trabalhar com anos esperados de escolaridade num país onde você não consegue nem concluir o ensino obrigatório é uma medida que não reflete a realidade.”
Ele lembra que desde a Constituição de 1969 existe a obrigatoriedade de oito anos de estudos completos. “Levamos 40 anos para conseguir essa média. É mais razoável pensar em anos esperados de escolaridade onde você já estabilizou as matrículas, onde já existe fluxo escolar regular, sem grandes distorções”, ressalta.
“Normalmente, trabalhamos com anos concluídos, que mostra o que realmente um brasileiro conseguiu concluir”, completou. Luiz Araújo destaca ainda que as escolas do Sudeste e do Sul puxam a média para cima. “Se o brasileiro mora no Nordeste essa média cai, se mora no interior do Nordeste isso cai ainda mais, é uma média que esconde muitas desigualdades”, completou.