Lula e Serra: um segundo turno marcado por baixa oscilação entre os eleitores. |
São Paulo – O presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, afirmou ontem que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deverá vencer as eleições de hoje contra seu oponente, José Serra (PSDB), por uma vantagem superior a 25 milhões de votos. “Lula vai obter entre 55 e 60 milhões de votos e assim se projeta não só como o maior líder político do Brasil mas da América Latina”, disse Montenegro. “Lula expressa o sentimento de mudança, razão pela qual domingo sua vantagem não será inferior a 25 milhões de votos”, afirmou.
Treze anos anos depois de disputar pela primeira vez o comando da República e 22 anos após fundar o Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva deve ser eleito hoje presidente do Brasil. Se confirmados os resultados das pesquisas eleitorais, Lula receberá o cargo do presidente Fernando Henrique Cardoso, um aliado da década de 70 mas de quem seu partido se tornou um crítico feroz ao longo dos últimos oito anos. A solidez da democracia brasileira, 17 anos depois de uma ditadura militar que durou 21 anos, deverá ser reforçada com a alternância de poder sem traumas e com o diálogo entre o futuro e o atual governo aberto já na campanha eleitoral.
Lula, como José Serra (PSDB), Anthony Garotinho (PSB) e Ciro Gomes (PPS), se encontrou com Fernando Henrique em agosto para dizer ao País e ao mundo que o acordo com o FMI será mantido e que não haverá quebra de contratos. Um compromisso reafirmado no segundo turno, durante o qual o PT esteve em contato permanente com o Palácio do Planalto. Se vencer, Lula será recebido nesta terça-feira por Fernando Henrique para dar início à transição.
Depois de três derrotas consecutivas, duas delas para Fernando Henrique (94 e 98), o petista liderou a disputa de ponta-a-ponta nesta longa campanha, uma das maiores da história do País, e saiu das urnas em 6 de outubro com 39.454.692 votos (46,44% dos válidos). Um patrimônio que não foi suficiente para lhe garantir a vitória no primeiro turno mas que cresceu no segundo, desta vez enfrentando apenas o tucano José Serra.
Se eleito hoje, dia em que completa 57 anos de vida, Lula diz que imprimirá nova marca ao governo, tentando unir empresários e trabalhadores num grande pacto social para enfrentar o cenário econômico adverso e reduzir as desigualdades sociais. Confirmadas as pesquisas, o ex-torneiro mecânico levará a esquerda ao poder no Brasil, mas deverá fazer um governo de centro-esquerda, que incluiria o aliado Partido Liberal do vice José de Alencar, o PPS de Ciro, o PSB de Garotinho e parte do PMDB.
O PSDB seguirá para a oposição, assim como PFL, PPB e parte do PMDB e do PTB, partidos que apoiaram Fernando Henrique Cardoso. No Brasil, o desempenho eleitoral de Lula no primeiro turno foi superior aos dos presidentes eleitos após a redemocratização, embora de lá para cá o eleitorado tenha crescido e chegado a 115 milhões. Se confirmadas as pesquisas, vencerá este segundo turno depois de uma longa espera. E terá a responsabilidade de uma votação histórica para tentar acertar. O primeiro compromisso internacional de Lula já está definido: será uma viagem à Argentina para reafirmar o compromisso do Brasil com o Mercosul.