O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai incluir em suas pesquisas o trabalho doméstico não remunerado, principalmente de mulheres, que ultrapassa a média de 50 horas semanais na América Latina, segundo o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem). O presidente do instituto, Eduardo Pereira Nunes, disse que todo o sistema estatístico do País está sendo organizado para passar a considerar o uso do tempo. Até hoje, o trabalho era feito apenas de forma pontual, com a inclusão de algumas questões em pesquisas nacionais por amostra de domicílios, que não são suficientes para se ter um retrato sobre o assunto.
Estudo apresentado pela pesquisadora Maria Ángeles Duran, do Conselho Superior de Investigações Científicas da Espanha, mostra que, se fosse contabilizado, o trabalho não remunerado em Madri representaria um aumento de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) daquele país. Ela participou como convidada do Seminário Internacional sobre Uso do Tempo, realizado ontem no Rio pelo IBGE e pelo Unifem.
Durante o encontro, a ministra Nilcéa Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, defendeu a formação de um grupo de trabalho para discutir o tema. No prazo de 3 a 5 anos, segundo Nunes, tanto as pesquisas sociais quanto as econômicas do IBGE estarão abordando o tema. "Especialmente a mulher se dedica a uma série de atividades. É um tempo de trabalho que não está inserido na economia monetária, não é contabilizado no sistema de contas nacionais, mas é preciso que seja feito. Reconhecemos a importância. Agora, começamos as discussões metodológicas para ver em que direção vamos trabalhar", declarou o presidente do IBGE.
Diretora do escritório regional do Unifem no Brasil, Ana Falú diz que o principal resultado da medição seria a criação de políticas públicas. "Na França, por exemplo, as creches abrem às 6 horas e fecham às 20 horas. Isso significa que as mães que precisam trabalhar 7 horas têm a possibilidade de deixar os filhos bem cuidados." O trabalho doméstico tem um custo que muitas famílias não podem pagar. "Se não contamos com políticas públicas, cada vez as mulheres vão ter menos filhos ou demorar mais a decisão sobre a maternidade", avaliou Ana. "Quem cuida dos idosos, das crianças, dos doentes? Normalmente são as mulheres. Se estamos trabalhando, quem vai cuidar deles?", indaga. Ela defende a criação de uma grande campanha de paternidade responsável.
"Estudos mostram que quando homens se dedicam a cuidar dos filhos, dedicam horas à recreação, como ver televisão ou jogar bola. As horas que têm a ver com alimentação, estudo, doença e higiene, é a mulher que cuida. Isso tem que ser mudado na sociedade moderna, o avanço necessário na ruptura da divisão sexual do trabalho. Só vai ocorrer com mudança cultural e políticas públicas.