IBGE: população diminui em 27,2% dos municípios

Rio – Quase um terço dos municípios brasileiros, 27,2%, teve perda populacional entre 1991 e 2000. Outros 2.193, ou seja, 39,8% dos municípios, tiveram crescimento anual entre 0% e 1,5%, abaixo da média nacional de 1,6% ao ano. Os dados são da publicação lançada ontem pelo IBGE Tendências Demográficas: uma análise da amostra do Censo Demográfico 2000, que detalha os municípios com análises das tendências de crescimento ou declínio entre os anos de 1991 e 2000. A próxima atualização deste estudo demográfico só poderá ser feita com a realização do próximo censo populacional, previsto para 2010.

Dos 1.496 municípios onde foi registrada perda populacional, têm destaque os de Ilhéus, na Bahia, Nilópolis, no Rio de Janeiro, São Caetano do Sul, em São Paulo e Teófoli Otoni, em Minas Gerais. A maioria dos municípios que teve perda populacional tinha população de até 50 mil habitantes. Segundo o IBGE, há relação direta do resultado com a criação de novos municípios durante o período avaliado. Juntos, os municípios que apresentaram perda populacional concentravam 14,6 milhões de moradores.

As regiões mais críticas são as do extremo norte do Rio Grande do Sul, nas fronteiras com a Argentina e Santa Catarina e do Estado do Paraná com o Paraguai e em alguns municípios ao norte do Estado, próximo aos limites de São Paulo. Também foi identificada uma seqüência de municípios que vai de Minas Gerais até a Bahia, entre as BRs 101 e 116. No Nordeste, as perdas aconteceram principalmente nos municípios que fazem limite com Alagoas e Pernambuco e nas regiões centrais da Paraíba e do Piauí. Na região Centro-Oeste, os municípios que tiveram destaque ficam ao norte e oeste de Goiás. Na região Norte, houve perda populacional em municípios pouco habitados do sudoeste.

Dos municípios que tiveram crescimento populacional abaixo da média nacional de 1,6%, estão São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre e Vitória. Apresentaram crescimento médio anual, entre 1,5% e 3%, 21,1% dos municípios. Entre eles, 15 municípios de capitais brasileiras: Curitiba, Salvador, Fortaleza, Brasília, Belém, Goiânia, São Luís, Maceió, Teresina, Natal, Campo Grande, João Pessoa, Cuiabá, Aracaju e Porto Velho.

Na Região Metropolitana de Porto Alegre, na região central de Santa Catarina, áreas metropolitanas de São Paulo, litoral do Rio de Janeiro, Espírito Santo e parte do litoral do Nordeste e o estado do Mato Grosso do Sul, principalmente o leste do Estado, foram apontados como pólos de crescimento médio populacional. Somente 11,9% dos municípios apresentaram crescimento anual superior a 3%, o que corresponde a 15,1% da população residente no Brasil em 2000. Fazem parte deste grupo Manaus, Florianópolis, Macapá, Rio Branco, Boa Vista e Palmas.

Analfabetismo leva à migração

Rio – A taxa mais elevada de analfabetismo de pessoas maiores de 15 anos, de 23,6%, assim como a menor média de anos de estudo, de 4,5 anos, e as menores taxas de escolarização foram registradas nos municípios onde foi registrada perda populacional. Em 2000, a taxa de analfabetismo era de 13,6% e a média de anos de estudo de 6,2 anos para todo o País. A taxa de alfabetização mais elevada, de 88,9%, foi encontrada nos municípios que tiveram crescimento populacional entre 1,5% e 3% ao ano. A maioria deles, 69,9%, tem população acima de 100 mil habitantes. Nestes municípios foi registrada a maior média de anos de estudo, acima da média nacional, de 6,6 anos. O número de pessoas ocupadas é maior entre a população dos municípios com perda populacional. Porém, dos ocupados maiores de 10 anos, 46,5% tinham rendimento de até um salário mínimo. Os maiores rendimentos, acima de 20 salários mínimos, foram registrados nos municípios que tiveram crescimento populacional abaixo da média nacional, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre e Vitória.

Do interior para os grandes centros

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Vila Zumbi, Colombo:
destino de migração.

A migração de grande parte da população que vive nos municípios de pequeno e médio portes no interior do Paraná, com até 50 mil habitantes, para os centros urbanos vêm se mantendo nos últimos anos. Esses números, que confirmam essa mobilização, também podem ser observados em outras regiões do País, tornando-se um fenômeno comum e praticamente estável.

No Paraná, três áreas foram apontadas com situação mais crítica, ou seja, são regiões com baixo crescimento populacional. Municípios pequenos da parte central do Estado, próximos da fronteira com o Paraguai e um grupo de cidades ao norte do Paraná, na divisa com São Paulo, registraram perda populacional. Enquanto isso, na outra ponta da tabela, cidades como Curitiba, Ponta Grossa, Maringá, Londrina, Cascavel e Foz do Iguaçu tiveram crescimento acelerado nos últimos anos, inclusive de suas respectivas regiões metropolitanas. A média de aumento populacional nessas regiões é superior à média do Estado em si, que gira em torno de 1,4%. Segundo a pesquisa, apenas 11,9% do total de municípios apresentaram crescimento superior a 1,6%. Dentre eles a Região Metropolitana de Curitiba (RMC), que apresentou crescimento populacional de 2,6% na última pesquisa. De acordo com Sinval Dias dos Santos, chefe do IBGE no Paraná, esse fenômeno ainda existe, mas se comparado à perda populacional registrada em décadas anteriores, os números foram reduzidos. Segundo ele, os pólos urbanos existentes no Estado tendem a se desenvolver, mas que até mesmo as regiões metropolitanas, onde o crescimento chegou a ser de 3,4% ao ano, estão tendo um equilíbrio maior. "Isso está acontecendo em todo o País. A população que vivia nos pequenos municípios se mudam para a cidade grande, mas como existem poucas áreas ainda disponíveis, acabam se instalando nas regiões metropolitanas", assegurou Sinval.

De acordo com ele, municípios como Fazenda Rio Grande, na RMC, servem de modelos para ilustrar esse caminho para o equilíbrio populacional. Na época de sua fundação, em 1991, a cidade tinha 24 mil habitantes, mas rapidamente, a população saltou para 70 mil no final da década. O mesmo caso pode ser observado em São José dos Pinhais e Colombo.

No entanto, afirma o chefe regional do IBGE, os constantes recordes registrados nas safras agrícolas pode ser uma das alternativas para frear a migração para os centros urbanos. Ele destaca que, conforme a economia dos pequenos e médios municípios for crescendo, invariavelmente, outros setores, como comércio, instalação de novas indústrias e construção civil, por exemplo, também se desenvolvem, gerando empregos e novas oportunidades nos locais que até pouco tempo atrás não existia. Todo esse desenvolvimento, conta ele, influencia diretamente na vida da população local, evitando que a migração tenha um impacto negativo nessas áreas. "O resultado do estudo não pode ser desconsiderado. É um fenômeno existente, mas que se mantém estável. Não houve grande disparidade e, por isso, existindo maior incentivo ao trabalho no campo pode haver um equilíbrio nos próximos estudos", afirmou Sinval. (Rubens Chueire Júnior)

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