Determinante na educação dos filhos, a estrutura familiar também pesa sobre o nível de rendimentos alcançados por eles no mercado de trabalho. A correlação entre o nível de instrução dos pais e a renda de seus herdeiros é forte, revela o suplemento de mobilidade sócio-ocupacional da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2014, divulgado nesta quarta-feira, 16, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os resultados indicam que o nível de escolaridade das pessoas ocupadas está bastante associado ao nível educacional de seus pais. A diferença aparece quando se compara pessoas que têm o mesmo nível de escolaridade. Em geral, aqueles que têm pais mais escolarizados ganham mais, embora o nível de instrução também impulsione o nível de renda.
Um porcentual de 41% dos filhos de pais sem instrução está nas faixas de renda mais baixas, com rendimento de até meio salário mínimo (7,5%) ou de mais de meio a um salário mínimo (17,6%). O inverso acontece quando o pai tem nível superior completo. Nesse caso, 47,4% dos filhos ganham acima de cinco salários mínimos, podendo ultrapassar a faixa de rendimento de 20 salários.
A idade em que os filhos começam a trabalhar também sofre influência da ocupação dos pais. O IBGE mostra que filhos de trabalhadores cuja ocupação demanda menor nível de instrução formal e que têm menor renda acabam ingressando mais cedo no mercado de trabalho. O exemplo mais gritante é o dos trabalhadores agrícolas. Quando o pai trabalha no campo, 59,6% dos filhos começam a trabalhar antes dos 13 anos. Quando a mãe é trabalhadora rural, esse porcentual vai a 65,9%.
A lei brasileira proíbe qualquer trabalho para menores de 14 anos. Na idade entre 14 e 16 anos, o jovem pode trabalhar apenas na qualidade de aprendiz. A pesquisa revela, entretanto, que 73,9% da população ocupada em 2014 entrou no mercado antes dos 17 anos. Desse total, 36,4% – ou 25,201 milhões em números absolutos – eram vítimas do trabalho infantil.
Quanto maior a idade em que a pessoa começou a trabalhar, maior a proporção de pais empregados com carteira assinada e cai a de pais sem carteira, assim como a de pais que trabalham por conta própria.
Pela primeira vez desde 1996, o IBGE se debruçou sobre a evolução social e ocupacional entre gerações. Como as metodologias empregadas são distintas, não é possível comparar os dados. A pesquisa de 2014 teve convênio com o antigo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, gestor do programa Brasil Sem Miséria, que tem como um dos eixos aumentar oportunidades de trabalho e geração de renda entre famílias mais pobres.
Ascensão profissional
Mais da metade dos filhos que moravam com as mães aos 15 anos de idade conseguiu ascender profissionalmente em relação a elas, diz a investigação sobre mobilidade sócio-ocupacional da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2014. O levantamento revela a importância da presença da mãe no domicílio para a educação dos filhos.
A mobilidade intergeracional (dos filhos em relação aos responsáveis) dessas pessoas foi de 51,4%. Na prática, isso significa que eles conseguiram ocupações melhores que a de suas mães, com rendimentos superiores e menor vulnerabilidade social. Outros 36,3% mantiveram o mesmo estrato sócio-ocupacional da mãe e 11,5% tiveram mobilidade descendente.
Já em relação ao pai, 47,4% melhoraram suas condições de trabalho em 2014, 33,4% reproduziram a ocupação do pai e 17,2% caíram de patamar, ocupando postos de trabalho com menor rendimento e maior vulnerabilidade. O IBGE considera mais vulneráveis pessoas com rendimento menor que um salário mínimo ou sem rendimento do trabalho, provavelmente sem vínculo empregatício.
Os trabalhadores agrícolas – localizados no estrato de menor rendimento e maior vulnerabilidade entre os cinco pesquisados – foram os que registraram a maior taxa de evolução (26%), seguidos pelos trabalhadores da produção de bens e serviços e de reparação e manutenção (11,5%).
Influência materna.
A pesquisa do IBGE alerta para a importância da presença da mãe no domicílio para a educação dos filhos. Os menores porcentuais das pessoas com 25 anos ou mais de idade sem instrução estão entre aqueles que moravam com a mãe (10,3%) ou com ambos os pais (10,8%). Além disso, independentemente da idade, as pessoas que não moravam com a mãe na adolescência apresentaram taxa de alfabetização mais baixas.
Parcela
Uma parcela de 38,6% da população ocupada brasileira conseguiu ascender profissionalmente em 2014, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A mobilidade foi concentrada nos estratos ocupacionais mais baixos. Apesar disso, a tendência constatada foi de imobilidade (49,1%) na carreira.
“Essas pessoas melhoraram em termos de rendimento médio e em termos de vínculo empregatício”, diz Flávia Vinhaes Santos, analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento (Coren) do IBGE. A progressão dos trabalhadores rurais e dos profissionais do comércio, localizados nos estratos mais baixos da pesquisa, foi de 14,6%, cada um. Já aqueles que estão nos estratos mais altos tendem a se deslocar menos de área de trabalho.
De acordo com a pesquisa, 11,1% das pessoas ocupadas tiveram uma curva descendente em relação ao seu primeiro trabalho. Sem pesquisas anteriores realizadas nos mesmos padrões, o instituto não tem um parâmetro de comparação desses números.
O IBGE divide as pessoas ocupadas da pesquisa em cinco estratos ocupacionais: dirigentes em geral e profissionais das ciências e das artes (A); técnicos de nível médio (B); trabalhadores de serviços administrativos (C); trabalhadores da produção de bens e serviços e de reparação e manutenção (D); vendedores e prestadores de serviço do comércio (E); e trabalhadores agrícolas (F). Os primeiros são os grupos com maior rendimento e menor vulnerabilidade. Os estratos com maior número de trabalhadores com rendimento menor que um salário mínimo ou sem rendimento são mais frágeis, pela provável ausência de vínculos e direitos trabalhistas.
A mobilidade sócio-ocupacional é caracterizada pela influência do nível de instrução dos pais e sua trajetória profissional na ocupação e na renda dos filhos, assim como suas experiências educacionais e inserção no mercado de trabalho. Os dados acima tratam da chamada mobilidade intrageracional, isto é, ao longo da carreira. A Pnad 2014 também pesquisou a mobilidade intergeracional (dos filhos em relação aos pais).