Cerca de cinco mil hectares de área de caatinga deixaram de ser desmatados de novembro a julho, como resultado do programa Mata Nativa, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que busca o uso sustentável do bioma e a regularização ambiental das empresas do pólo gesseiro do Sertão do Araripe, em Pernambuco. A informação foi dada nesta quinta-feira (17) pelo superintendente do Ibama no Estado, João Arnaldo Novaes, que fez um balanço parcial da ação que inclui o Sindicato das Indústrias do Gesso (Sindusgesso) e a Agência Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH).
Segundo Novaes, o consumo anual de lenha ilegal – proveniente de desmatamento da caatinga – pela indústria gesseira era de 7,7 mil hectares em 2004. Em 2008, a área total desmatada deve ficar em torno de 1,9 mil hectares. Até julho, o desflorestamento atingiu 1,2 mil hectares. O Ibama considera que o pólo gesseiro – responsável por 95% do gesso produzido no País e também pelo desmatamento de 80 mil hectares de caatinga nos últimos dez anos – abrange 115 empresas. Em 2004, o número das empresas que detinham licença ambiental era de 17. Hoje, elas são maioria: 97 trabalham legalmente contra 18 ainda irregulares.
Segundo levantamento do Ibama, a lenha de devastação da caatinga que representava 80% da fonte energética da indústria gesseira em 2004, caiu para 20% em 2008. As espécies de planos de manejo sustentável passaram de 5% para 15%, enquanto a lenha de espécies frutíferas (poda de cajueiro) e exóticas (algaroba) passaram de 15% para 65%, tornando-se a principal matriz usada para alimentar os fornos para a produção de gesso.
O Araripe pernambucano possui a maior reserva de gipsita das Américas. As empresas que exploram a gipsita se instalaram na área de forma desordenada, sem preocupação com a sustentabilidade da matriz energética existente. Para produzir gesso, compravam a lenha para alimentar os fornos e a indústria sem se importar de onde ela vinha, enquanto o vendedor de lenha desmatava – numa concepção cultural de não valorizar o bioma, mas de "limpar o mato" – visando o dinheiro imediato, a sobrevivência.
Polícia Federal
Este quadro, segundo o superintendente do Ibama no Estado, está mudando. Em novembro, o Ibama, com a Polícia Federal (PF), deflagrou a Operação Mata Branca, que embargou um total de 42 empresas, depois de um levantamento da área – com identificação das irregularidades. Hoje, apenas três continuam embargadas.
O presidente do Sindusgesso, Josias Inojosa Filho, engajado na meta de regularização ambiental, afirma que, apesar do balanço parcial positivo, "a charada ainda não está resolvida". Inojosa Filho destacou a necessidade de se buscar a eficiência dos fornos de calcinação do gesso – capazes de produzir mais com menos lenha -, além do manejo sustentável da caatinga, do reflorestamento do bioma e do uso de combustíveis fósseis. O pólo gesseiro pernambucano produz 2,8 milhões de toneladas de gesso por ano. Cerca de 90% dessa produção abastecem a construção civil.