Humilhante derrota para Lula

Brasília – Logo após a eleição do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) como presidente da Câmara, o líder do PT na Casa, Arnaldo Chinaglia, admitiu que houve falhas no processo de escolha de Luiz Eduardo Greenhalgh como candidato oficial do partido e reconheceu que o resultado representa uma revolta dentro da própria base aliada.

Revelando a arrogância do PT durante o processo, Arlindo Chinaglia afirmou ainda que a candidatura de Severino Cavalcanti não impressionava o governo, que avaliava que ele não teria a mais remota chance de se eleger presidente. "Eu creio que, pelo volume de votos, foi uma verdadeira reação. É difícil identificar contra exatamente o quê", afirmou. O deputado considerou a escolha de Greenhalgh pelo PT bem-intencionada, porém, falha.

"Eu já disse antes e agora fica desagradável dizer, mas nós erramos no processo. O fato de cada parlamentar escolher três candidatos criou uma distorção, que só foi percebida mais tarde. Depois, a divulgação do resultado levou a um equívoco do deputado Virgílio Guimarães, que entendeu que o processo não tinha sido bom e saiu, então, com uma candidatura avulsa. É da tradição do PT respeitar as decisões. O processo foi limpo porque foi bem-intencionado, mas houve falhas. A partir daí, somou-se a bronca com o governo e as limitações de Greenhalgh", explicou. "A esta altura, imaginar que poderia haver um candidato melhor é completamente ocioso", acrescentou.

Para o líder do PT na Câmara, a falha foi coletiva, já que o resultado desfavorável ao governo não foi construído na noite de votação: "Isso vem sendo construído. Nós não percebemos a tempo". Chinaglia afirmou que uma das causas da revolta dos deputados contra o governo se deve a queixas a respeito da falta de acesso a alguns ministérios: "Muitos deputados reclamam que vão a um ministério e são atendidos como se fosse um favor, quando eles são representantes da população. Por ser uma votação secreta, muitos fatores se conjugam. A pequena vingança, que tem conseqüências às vezes muito graves, seguramente aconteceu".

Ele lembrou ainda que o rompimento na base aliada não é inédita na Câmara: "Isso aconteceu também no final do ano passado. A Câmara praticamente ficou paralisada por uma reação da base aliada. Creio que o governo tem de retomar a coordenação política tendo em vista que a base não acompanha necessariamente todos os movimentos da bancada do PT ou o que eventualmente o governo queira".

Chinaglia contou que conversou, por telefone, com o deputado João Paulo Cunha a respeito do paradoxo de o PT ter a maior bancada mas não ter conseguido a presidência da Câmara e, conseqüentemente, nenhum cargo na mesa diretora. Ele classificou a situação como "chocante". "Comentamos se haveria alguma questão de ordem a se fazer. Ele inicialmente achou que se poderia fazer alguma coisa. Eu ponderei e chegamos à conclusão de que não há base para se fazer algo", disse.

O líder do PT no Senado, Aloizio Mercadante, se reuniu ontem com o ministro da Coordenação Política. Aldo Rebelo, para conversar sobre a derrota do governo. Mas saiu do encontro sem nenhum comentário.

PT fica fora dos cargos na mesa diretora

Brasília – O PT não vai ocupar nenhum cargo na mesa diretora da Câmara dos Deputados em 2005. O partido teria direito a ocupar uma das suplências da mesa, mas durante as negociações para garantir o apoio ao candidato à presidência da Casa, Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), a vaga foi cedida ao PDT. Greenhalgh foi derrotado ontem pelo candidato avulso Severino Cavalcanti (PP-PE).

O PT garantiu, no entanto, a possibilidade de indicar o nome para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a mais importante da Câmara. As indicações para as presidências das comissões seguem o mesmo rito da mesa diretora. O partido com a maior bancada tem o direito de fazer a primeira indicação para a presidência das comissões.

Como referência para essas indicações, foi estabelecido entre a presidência da Câmara e os líderes partidários que valeria o número da bancada registrado na mesa diretora até a meia-noite do dia 14.

Aécio: "Houve uma sucessão de equívocos"

Belo Horizonte – O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), atribuiu ontem a eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Câmara dos Deputados a "uma sucessão de equívocos" do PT durante o processo. Para o governador tucano, o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva "deve encarar o resultado de forma pedagógica, substituindo certa soberba que tem orientado o relacionamento do governo com o parlamento por uma sincera e fundamental disposição à negociação e respeito aos grupos minoritários".

Ex-presidente da Câmara, Aécio disse que o resultado não deveria surpreender aqueles que conhecem a Casa e "o sentimento interno de autonomia" que ela preserva. "Houve uma sucessão de equívocos por parte do PT na condução do processo, até mesmo menosprezo pelo sentimento político da Casa", avaliou o governador, de Paris (FRA), por meio de sua assessoria.

Após o lançamento da candidatura de Virgílio Guimarães (PT-MG), no final do ano passado, Aécio chegou a declarar publicamente apoio ao deputado mineiro. Porém, o governador evitou se posicionar diante da escolha de Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) como candidato oficial da legenda e a decisão de Virgílio de se lançar na disputa com uma candidatura avulsa. Quando questionado, dizia que nada tinha a ver com o "imbróglio" do PT.

Genoino

Já o presidente nacional do PT, José Genoino (SP), disse ontem, em entrevista ao portal do partido na internet, que a derrota na eleição para a presidência da Câmara revela a necessidade de melhora no método de relacionamento do PT e de sua bancada com os partidos da base aliada e com as demais legendas. Segundo ele, o revés é maior para os petistas do que para o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e também teria sido motivado por uma manobra da oposição, com alianças entre setores descontentes da base aliada para derrotar a legenda. "A derrota é maior para o PT que para o governo, uma vez que a maior bancada da Câmara está fora da mesa", afirmou Genoino, referindo-se ao fato de o partido não contar com deputados na mesa diretora da Casa.

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