O Hospital Universitário (HU) da Universidade de São Paulo (USP) perdeu ao menos 45 leitos entre janeiro e abril – 20% do total. A queda é reflexo das medidas de contenção de gastos tomadas pela reitoria da universidade, que fez o hospital reduzir o atendimento. O dado consta em um relatório do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).

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O levantamento foi realizado em abril a pedido do Ministério Público Estadual (MPE), que investiga a redução de atendimento no HU. Segundo o documento, obtido com exclusividade pelo jornal O Estado de S. Paulo, o total de leitos instalados recuou de 223 para 178 nos quatro meses. Dos 45 leitos fechados, 11 eram de terapia intensiva ou semi-intensiva. Das dez salas cirúrgicas, só seis estão em funcionamento “por falta de profissionais de enfermagem e médicos anestesistas”.

Ainda de acordo com o relatório, 12 tipos de ambulatórios foram desativados parcialmente, como os de pediatria, clínica cirúrgica e obstetrícia. O ambulatório de ortopedia foi encerrado. “Como muitos leitos foram desativados, os pacientes se acumulam na observação do pronto-socorro em local não adequado”, registra o Cremesp no documento. No dia da vistoria, técnicos do conselho encontraram 23 pacientes em macas.

Entre 2010 e março de 2015, diz o relatório, a média mensal de consultas no ambulatório em seis especialidades (como pediatria, ortopedia e psiquiatria) recuou 38,5%, de 11,7 mil para 7,2 mil. O total de médicos caiu de 299, em janeiro de 2014, para 268, na data da vistoria.

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Mudanças

Em março, o jornal mostrou que o HU havia passado a atender só a urgências e emergências. Casos de menor gravidade passaram a ser enviados a postos de saúde. O hospital é um dos principais da zona oeste e cobre área com cerca de 500 mil habitantes.

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Isso ocorreu após a perda de cerca de 200 funcionários que aderiram ao Plano de Demissão Voluntária (PDV) da USP, uma das apostas da reitoria para contornar a crise financeira. Pesou ainda o corte de salários acima do teto na universidade – alguns médicos tinham remuneração acima do permitido.

Segundo o relatório, nas atuais condições, o hospital descumpre normas que preveem proporções mínimas de médicos por leito em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) ou em salas de reanimação. Procuradas, a superintendência do HU e a reitoria da USP não comentaram o relatório.

De acordo com o vice-diretor clínico do HU, Gerson Salvador, a crise trouxe sobrecarga aos profissionais. “Colegas pedem demissão por causa das condições ruins de trabalho”, diz ele, que também é diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp).

Marcos Boulos, conselheiro do Cremesp, reconhece as dificuldades de contornar o problema. “A USP não tem recursos para investir e modernizar o hospital”, diz ele, ex-superintendente de Saúde da universidade. Segundo Boulos, é importante que o Estado participe ativamente da manutenção do hospital, mas ainda é necessário discutir qual o melhor modelo para a gestão compartilhada. Os técnicos que fizeram a vistoria não comentaram o relatório.

Em 2014, a reitoria tentou transferir o HU para a Secretaria Estadual da Saúde, como estratégia para aliviar as contas da USP, o que gerou forte resistência interna da universidade. O governador Geraldo Alckmin (PSDB), porém, rejeitou a ideia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.