Médicos do Serviço de Cirurgia Vascular do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), fizeram o primeiro autotransplante renal para o tratamento de pacientes com aneurisma grave de aorta abdominal.
Pela cirurgia tradicional para tratar esse tipo de aneurisma, é introduzido um cateter para implantar uma prótese, como um stent, na artéria aorta abdominal. Dessa forma, o sangue circula pela prótese e a dilatação na aorta reduz até desaparecer. Mas em alguns casos o aneurisma está muito próximo da artéria renal (que leva sangue até o rim) e o implante da prótese obstruiria a entrada dessa artéria, o que torna o procedimento inviável. Os médicos retiraram o rim e o reimplantaram abaixo da aorta, na artéria pélvica. Dessa forma, a prótese pôde ser instalada.
“Este hospital foi pioneiro na técnica de tratamento endovascular de aneurisma, em 1997. Como a gente tem muita experiência com endoprótese e muita experiência com transplante renal, juntamos as duas ideias para viabilizar o tratamento do aneurisma”, afirmou o chefe do Serviço de Cirurgia Vascular, Gaudencio Espinosa.
O aneurisma da aorta abdominal atinge cerca de 4% da população, principalmente homens acima dos 60 anos. É uma doença quase sempre assintomática, costuma ser descoberta por acaso, quando o paciente faz uma ultrassonografia ou tomografia para investigar outros problemas, como dor na coluna. Se não for tratada, a dilatação na artéria pode aumentar até chegar ao rompimento. “Não se sabem as causas exatas do aneurisma. Há um componente genético, mas hipertensão e fumo têm relação com a formação do aneurisma”, disse o médico.
Improviso
De acordo com o diretor, o primeiro paciente operado havia passado por outras instituições. “O aneurisma ia explodir. Os médicos, então, retiraram o rim, o reimplantaram mais abaixo e corrigiram o aneurisma. Foi uma criação na hora”, afirmou o médico. A equipe do Serviço de Cirurgia Vascular se prepara para descrever a técnica e submeter o artigo a revistas científicas.
No ano passado, três pacientes foram submetidos à técnica. O aposentado Ismair Oliveira, de 70 anos, foi um deles. Hipertenso, fumante por 55 anos, acordou na madrugada de 26 de abril de 2015 com intensa dor abdominal. “Até hoje não senti nada no rim, nenhum problema para a urina”, conta. Ele tentava havia muitos anos parar de fumar. “Desde essa dor, parei de fumar. Fez um ano agora que eu larguei.”